A partir da correlação existente entre os tropismos e a forma literária, podemos
dizer que, se os tropismos são uma força imanente, a forma literária é uma figura dessa
força. Enquanto figura de uma força imanente, a forma literária remete a uma
experiência subjetiva e ao mesmo tempo universal.
Podemos enfatizar a universalidade da força imanente, porque enquanto força da
natureza, ela é uma força compartilhada. Existe uma função de reconhecimento possível
de cada um de nós – “nós nos parecemos todos”, dizia Nathalie Sarraute, ao falar do
nível onde se situam os tropismos; “nós somos uma imensidão sem contornos”. Nós nos
parecemos todos no sentido de que nós todos estamos expostos a essa força singular da
natureza – força imanente cujo poder se exerce no nosso corpo. Os tropismos são o viés
dessa força imanente compartilhável, reconhecível de um indivíduo a outro.
Nós também podemos enfatizar, por outro lado, a especificidade da experiência
da força imanente, enquanto ela também é resultante das percepções de um “corpo
próprio”. Nesse sentido, podemos dizer que existem tantas forças imanentes quanto
existem “
corps percevants
”. A força imanente seria, portanto, uma força plural, em
oposição à força singular se for vista do ponto de vista da sua origem.
Para Nathalie Sarraute, cada escritor precisa se tornar consciente da sua figura,
isto é, da forma literária que melhor exprime suas percepções, pois o ato de escrever
revela a figura da ação de uma força imanente. Dois escritores não podem escrever com
as mesmas figuras, com a mesma forma literária, por serem seres com percepções
necessariamente diferentes. Criar uma nova forma literária é se inscrever numa
perspectiva dinâmica da evolução da literatura, enquanto repetir uma forma literária já
existente é se inscrever numa perspectiva estática em relação a essa mesma evolução,
comprometendo o progresso da história da literatura.
De um lado, nós podemos evidenciar as diferentes figuras, isto é, formas, que
revelam a presença de uma força imanente. Sabemos que as diferentes figuras sinalizam
uma configuração diferente da força imanente, pois, como já dissemos acima, existem
tantas forças imanentes quanto “
corps percevants
”, já que uma força imanente também
é o resultado das percepções de um “corpo próprio”.