Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1080

Nesse sentido, considerando a força imanente como força plural, nós podemos
compreender por que, para Nathalie Sarraute, cada escritor deve se expressar segundo
uma forma literária diferente. Cada escritor deve procurar compartilhar a especificidade
da sua força imanente. A forma literária de cada escritor se estabelece segundo suas
percepções do mundo. Na opinião de Nathalie Sarraute, tantos quanto forem os
escritores, tantas quantas formas literárias diferentes existirão, na medida em que todos
esses escritores forem inscritos na história da literatura. Apenas entra para a história
quem se concentra na sua forma literária.
De um lado, a forma é o que distingue os escritores; de outro, ela é o elemento
que permite compartilhar as experiências. A universalização da experiência é um viés
dos tropismos a que remete a força imanente; a forma é, por sua vez, “o outro” viés –
ela se situa no plano da experiência individual, que remete também à mesma força
imanente.
Ao enfatizar o viés singular e o viés plural da força imanente, estamos nos
situando nos dois casos num só plano, o plano da experiência do “corpo próprio”, ora
focalizando a origem da força, ora a configuração dessa força. Nós estamos, portanto,
na esfera do não-sujeito da escrita, que não pode dar conta da descontinuidade de uma
oposição entre real e ficção – a ficção seria obra do sujeito apenas, ao passo que nós
acabamos de dizer que o não-sujeito está presente no ato da escrita, pois falamos de
forma enquanto “percepção” e “experiência”.
A escrita é um processo de objetivação de uma experiência sensível, mas ela
também é uma experiência em si mesma. O escritor é sujeito enquanto instância de
origem, mas ele também é não-sujeito enquanto instância projetada. A oposição entre
real e ficção nos impede de ver a alternância que existe entre sujeito e não-sujeito no ato
de escrever. O ato de escrever, como toda atividade humana, supõe o domínio do
sentido, mas também a perda do domínio do sentido, pois o escritor, como todo ser, ora
é sujeito, ora é não-sujeito. O sujeito vela a coerência na escrita, mas o não-sujeito na
escrita se re-vela. Para Nathalie Sarraute, a escrita tornava estável algo que era
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