Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 842

Por analogia identificamos o sentido de ‘saber’ com a manipulação
obsessiva de Clarice sobre a linguagem, numa tentativa de, cada vez mais,
buscar os limites que ela oferece; e o sentido de ‘saber intuitivo’ com aquilo
que extrapola o próprio sentido das possibilidades da linguagem e adentra no
campo do indizível – ‘uma fenda estreita num pequeno círculo’. Enfim, a
eclosão da imagem criada através dos intervalos – silêncios – latentes ao
discurso literário da escritora.
Aceitando os vazios silentes, indicados por Rossoni (1999), e que o sentido do
texto não está nele mesmo, mas na construção que se dá a partir dele (KOCH, 2009),
interessa perceber como elementos do processamento textual se efetivam na crônica “O
milagre das folhas”.
Para que ocorra o processamento textual, nas atividades de leitura e produção de
sentido, os leitores “[...] realizam simultaneamente vários passos interpretativos
finalisticamente orientados, efetivos, eficientes, flexíveis e extremamente rápidos”
(KOCH; ELIAS, 2007, p. 39). Segundo Koch (2009), há três grandes sistemas de
conhecimento que permitem o processamento textual: linguístico, enciclopédico e
interacional. Evidentemente, os três sistemas têm de ser acessados para que a leitura de
“O milagre das folhas” seja concretizada. Porém, entre os elementos possíveis de
análise, considerando a interação com o jovem leitor, observa-se, quanto ao último
sistema, que o texto de Lispector mobiliza intensamente aspectos ilocucionais,
comunicacionais, metacomunicacionais e superestruturais. A autora conceitua (KOCH,
2009, pp.32-33):
É o conhecimento ilocucional que permite reconhecer os objetivos
ou propósitos que um falante, em dada situação de interação, pretende
atingir. [...].
O conhecimento comunicacional é aquele que diz respeito, por
exemplo, a normas comunicativas gerais [...]: à seleção da variante
linguística adequada a cada situação de interação e à adequação dos tipos de
texto às situações comunicativas. É o que Van Dijk (1994) chama de
modelos cognitivos de contexto
.
O conhecimento metacomunicativo permite ao produtor do texto
evitar perturbações previsíveis na comunicação ou sanar
(on-line ou a
posteriori)
conflitos efetivamente ocorridos por meio da introdução no texto,
de sinais de articulação ou apoios textuais, e pela realização de atividades
específicas de formulação ou construção textual. [...].
O conhecimento superestrutural, isto é, sobre estruturas ou modelos
textuais globais, permite reconhecer textos como exemplares de determinado
gênero ou tipo; [...].
O título da crônica estabelece o aspecto polissêmico do texto: o milagre é algo
próprio das folhas. Trata-se de um milagre que se efetiva por meio das folhas, é um
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