Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 839

do Rio (1881-1921), Humberto de Campos (1886-1934), Caio Fernando Abreu (1948-
1996) – são alguns dos nomes contemplados pelo livro. Entre os autores, Clarice
Lispector (1920-1977) comparece com “Crônica social” e “O milagre das folhas”, no
bloco 1960, e no bloco 1970, com “Medo da eternidade”.
Se para Moisés (2005, p.117), o cronista não se perde em devaneios, pois se
utiliza do monodiálogo, “simultaneamente monólogo e diálogo”, organizando a crônica
como uma peça teatral em um ato ligeiro, tendo como protagonista sempre o mesmo
figurante, mesmo quando outras personagens intervêm, no caso da crônica de Lispector,
esse monodiálogo é intensificado de forma que, entre o negar e o reconhecer do milagre,
ocupa-se todo o texto. Rossoni (1999, p.87-88), ao abordar os “silêncios” da palavra na
obra da escritora, escreve:
Há, então, no texto literário uma organização interna que o estrutura e o
confere como capaz de se fazer compreender de maneira mais ampla, e antes
de mais nada, de proporcionar prazer, entendido aqui como instrumento
estético impregnado de conhecimento. Isso ocorre, porque a palavra,
unidade primeira e fundamental de todo texto, além de evidenciar sua faceta
exterior, o atributo da significação – que potencializa sua capacidade de
construir/“des-construir” – ainda estampa interiormente seu poder de
silêncio.
Silviano Santiago
3
, crítico literário, ao analisar a crônica “Visão do esplendor”,
tece comentários sobre o silêncio perceptível nos escritos de Lispector:
Por acobertar essa espécie de segredo, cujo fundo feminino é
ancestral e atualíssimo, o silêncio é o mais nobre dos materiais de que se
vale a escritora. Como antropófaga, ela o destrincha. Como escritora, ela o
elabora. Como estilista, ela o tece em vocábulos. Como autora, ela intriga o
leitor. O fim explícito do silêncio é o de preservar dela e do leitor/de liberar
a ela e ao leitor as múltiplas mortes da alma e os múltiplos renascimentos do
corpo. (SANTIAGO, 2011).
A linguagem da escritora, segundo Bailey
4
(2007), tem sido objeto de estudo
acadêmico e da crítica literária desde os primeiros textos vindos a público:
Vê-se assim que a importância da linguagem na obra de Lispector
vai constituir um dos principais veios da fortuna crítica da autora.
Entretanto, a questão da linguagem está indissoluvelmente ligada à
3
Disponível em: <
. Acesso em: 04 maio 2011.
4
Disponível em: <
. Acesso em: 06 maio 2011.
1...,829,830,831,832,833,834,835,836,837,838 840,841,842,843,844,845,846,847,848,849,...1290
Powered by FlippingBook