Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 742

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do não, em inequívoca decisão favorável à liberdade de escolha, toda a política governamental
consistiu em desconsiderar o resultado da vontade do povo. O povo, em eleições livres, decidiu pela
liberdade de escolha. O que fez o governo? Decidiu estabelecer tal número de restrições à compra
de armas que acabou por inviabilizá-la. Se tal tivesse sido o resultado da consulta, nada haveria a
objetar. Como não o foi, a pergunta concerne ao próprio respeito a procedimentos democráticos.
Com o intuito de dar legitimidade a esse desrespeito a uma decisão democrática, o subterfúgio
usado consistiu em produzir supostos estudos que estabelecem correlações estatísticas tendo como
pressuposto que o "povo decidiu mal". A pesquisa visaria, então, a corrigir tal "anomalia". Assim,
estudos são produzidos dizendo que a violência diminuiu graças ao desarmamento da população
civil. Ora, correlações estatísticas podem ser feitas entre os mais distintos fatores, não indicando
necessariamente uma relação causal. Por exemplo, a violência pode ter diminuído por outras causas,
como maior eficiência da polícia, decisões judiciais, maior apreensão de armas de bandidos,
políticas sociais para populações de baixa renda, unidades pacificadores em morros e favelas, e
assim por diante. Privilegiar o desarmamento de pessoas de bem carece de qualquer base científica.
No entanto, é essa aparência que procura ser "vendida" à sociedade, em nome de uma suposta
"cientificidade" do estudo ou de uma pesquisa.
Outro caso que já povoa as páginas de jornais é o de pesquisas de opinião eleitoral relativas à
apreciação dos graus de satisfação com os atuais governadores e prefeitos, além de outras ainda que
já procuram medir o potencial dos candidatos às eleições municipais do próximo ano.
A margem estimada de erro de pesquisas de opinião se faz segundo o universo dos entrevistados.
Assim, se uma pesquisa de opinião pública for feita com mil entrevistas, sua margem de erro é de 3
pontos porcentuais para mais ou para menos (total de 6 pontos). Se for com 600 entrevistas, a
margem de erro sobe para 4 pontos para mais ou para menos (total de 8 pontos). Neste último caso,
se se analisar apenas o comportamento das mulheres, metade aproximada da amostra por gênero, o
problema se agrava. A margem de erro sobe, então, para 6 pontos para cima ou para baixo (total de
12 pontos).
Eis por que se deve ter o maior cuidado na leitura de certas notícias, pois pode acontecer que seu
objetivo seja meramente retórico, o convencimento do outro, e não um retrato, embora
momentâneo, da realidade. Contudo esse é, do ponto de vista público, o processo mesmo de
formação da opinião pública.
*PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL; DENISROSENFIELD@TERRA.
COM.BR
Fonte: ROSENFIELD, D. L. Democracia e pesquisas de opinião.
O Estado de S. Paulo
,
São Paulo, 09 de maio 2011, Caderno A, p.02.
Ao se retomar o conceito de gênero de Bakhtin, percebe-se que se identifica
um gênero a partir do
conteúdo temático”, do “estilo” e da “construção
composicional”, utilizando as palavras do autor.
O texto 1 é assinado por alguém pouco conhecido pelos veículos de mídia.
Apesar disso, o nome do produtor textual se torna relevante pela informação que segue
no final do texto: “professor de Filosofia da UFRGS”. O aspecto da composição aqui
atende ao que se espera de um jornal de alcance nacional, uma vez que abre espaço para
a publicação de um texto elaborado por alguém que ocupa uma posição de destaque no
âmbito acadêmico. A autoria do texto é, então, assumida por um docente de uma
universidade (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Esse recurso é chamado de
argumento de autoridade
, que consiste em dar valor ao modo de pensar divulgado com
base no mérito de quem o enuncia. Tal expediente confere credibilidade ao texto, já que
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