Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 745

Texto 2: Emoções
(CARLOS HEITOR CONY) –
Folha de S. Paulo
– Terça-feira, 10
de maio de 2011.
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RIO DE JANEIRO – Pode parecer sarcasmo ou leviandade, mas para o cronista mais ou menos
irresponsável que sou eu, a notícia da morte de Osama bin Laden teve, como subproduto, um mérito
considerável na mídia universal.
Ela chutou para escanteio o casamento real na Inglaterra, com Londres transformada numa
Disneylândia para adultos exaltados e para a mídia deslumbrada. Cansei de ver os cavalos da guarda
real.
Não fora a complicada e polêmica morte do terrorista mais procurado do mundo, estaríamos
ainda na base de procurar saber qual foi o primeiro café da manhã da lua de mel do casal, como era e
de que era feita a camisola do dia (ou da noite) que a nubente usou, os planos do príncipe de
fecundar a princesa para garantir a dinastia dos Windsor - temas palpitantes que a mídia exploraria
até aos limites permitidos pela decência pública.
Ficamos livres desses emocionantes detalhes e caímos, não no casamento real da Inglaterra, mas
na real de um mundo que não se parece com os filmes da Disney. Aliás, não se parece com filme
algum, embora produtores e cineastas já estejam levantando custos, locações, roteiros e elencos para
fazer dos "Seals" que mataram Osama bin Laden uma tropa de elite como a nossa, que baterá
recordes de bilheteria.
Em termos de espetáculo, estamos bem providos, pois além da caçada ao terrorista e do
casamento real, ficamos sabendo que nós, os homens deste pobre mundo, somos dotados de um
"plus" que a natureza nos deu para devidas ou indevidas finalidades.
Não somente os Windsor se preocupam em manter a dinastia. De certa forma, e com justificado
entusiasmo, todos colaboramos para aquela dinastia que Machado de Assis desprezou, fazendo seu
personagem mais importante não transmitir a ninguém o legado da miséria humana.
Fonte: CONY, C. H. Emoções.
Folha de S. Paulo,
São Paulo
.
10 de maio 2011.
Disponível em:
Acesso
em: 10 maio 2011.
O texto 2 traz em sua composição a assinatura de quem escreveu:
Carlos
Heitor Cony
. A autoria neste caso é um aspecto relevante, uma vez que o espaço do
jornal,
Folha de S. Paulo
, é cedido a alguém reconhecido nacionalmente como um
escritor renomado e que escreve com frequência para o mesmo veículo. Em outras
palavras, o “articulista”
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já conta com, senão o respeito, a consideração pelo diz em seus
textos.
Os artigos de opinião não precisam ser obrigatoriamente elaborados por um
escritor renomado. Mas é possível dizer que, quando o artigo de opinião apresenta a
autoria de alguém com uma determinada deferência, de antemão, o leitor pode recorrer
a esse elemento para decidir pela sua leitura ou não. Muitas vezes, aquele que realiza o
ato de ler considera aquelas ideias mesmo que não concorde com elas.
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Termo utilizado pelo
Manual da Folha de S. Paulo
para se referir aos que escrevem na Folha com
regularidade.
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