tubarões para ser comido. Quem teve esta ideia? No próprio texto, o autor aponta
eu dei
a i deia
. O eu, nesse caso, é o escritor ou a personagem, Chapeuzinho Vermelho? Mais
uma vez, a proeminência da interferência de outros contextos na escrita da criança, a
busca por uma significância na escrita. Isso demonstra a profundidade da atividade
discursiva que é a estruturação do sentido no texto escrito.
Procedendo de tal forma, a criança vai buscar o sentido para seu texto no
interdiscurso, ou seja, em sua memória discursiva onde estão todos os dizeres já
mencionados. Os dizeres, aqui, são os enunciados de outrem que exerceram um papel
fundamental na constituição do sujeito. Essa memória discursiva ou interdiscurso é
formado por ouvir histórias, discussões, réplicas de diálogos, enfim, por todo modo de
interação social. Portanto, são diversas as situações enunciativas em que as crianças
participam e que constituem o seu interdiscurso. Assim, percebe-se que, para o autor
desse texto, os tubarões são figuras importantes, fortes, imponentes, capazes de sanar o
problema instaurado na narrativa. Mas de onde surgem esses tubarões? O jantar da vovó
com o caçador? Ora, essas situações, bem-vindas ao texto, advêm das intervenções
intertextuais e interdiscursivas que emergem no trabalho de escritura. Vale ressaltar que
são esses vestígios que garantem a materialidade do texto e funcionam como uma
unidade de sentido. Daí a importância do interdiscurso, do jogo discursivo, das trocas
verbais, das trocas de papéis sociais no trabalho da escritura.
Sendo assim, o texto não deve e não pode ser tomado apenas como um “fato”
linguístico. É claro que, em se tratando da alfabetização, o instrumental linguístico é
importante, mas o professor precisa ater-se no fato de que o texto se relaciona com a
língua, com a historicidade da linguagem na constituição do sujeito enquanto ser social.
Referencias Bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail.
Marxismo e filosofia da linguagem
. São Paulo, Hucitec, 1995.
________. Os gêneros do discurso, in:
Estética da criação verbal
. São Paulo, Martins
Fontes, 2000.
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique.
Dicionário de Análise do
Discurso
. São Paulo, Contexto, 2004.
