Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 67

significação presente no texto e permite que se possam ‘escutar’ outros sentidos que ali
estão compreendendo como eles se constituem.” (ORLANDI, 2009, p.26)
Vê-se portanto que a autora considera também outras formas de percepção de
sentidos considerando a complexidade textual.Uma vez que considero toda atividade de
produção e recepção de sentidos entre sujeitos discurso, busco observar a música
instrumental discursivamente como linguagem que relaciona sujeito e sentido na prática
de leitura e interpretação (enunciação) musical.
Neste ponto, a falta de objetividade e clareza da linguagem musical poderia ser
levantada como um aspecto que impossibilitaria considerá-la como constitutiva de
sentido. Entretanto, estudos da teoria da enunciação, marcados por uma heterogeneidade
teórica, mostram que a linguagem verbal também não é tão transparente como pode
parecer quando considerada discursivamente. Authier-Revuz aborda a opacidade da
linguagem assinalando que passar da consideração da língua à consideração do discurso
é abandonar um domínio homogêneo permitindo considerar a reflexidade opacificante,
tanto no plano da língua como no plano do discurso, marcada pelas manifestações de
posições enunciativas particulares a discursos, gêneros e sujeitos.
A outra reflexão sobre leitura a ser feita é em relação à outra afirmação
de Orlandi de que “não é só quem escreve que significa; quem lê também produz
sentidos.” (Orlandi, 2006) A heterogeneidade discursiva
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além de observar as várias
vozes constitutivas de um discurso também possibilita pensar no leitor como co-autor
uma vez que aciona o seu conhecimento pré-construído na atualização dos significados
ao constituir relações no processo de leitura. Portanto, assim como no texto verbal a
opacidade da leitura permite várias interpretações de um mesmo enunciado; na
execução de uma peça, o músico não apenas decodifica as notas musicais com sua
notação rítmica e fraseado, mas também exerce a co-autoria do enunciado musical ao
imprimir sua interpretação da peça musical no momento da execução. Logo a execução,
aqui simultânea à interpretação, tem duplo efeito, pois, o musicista lê ao decodificar
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Heterogeneidade constitutiva: conceito de Althier-Revuz que trata da alteridade no discurso abordando a
presença do
um
e do
não-um
. Não é marcada em superfície, é própria da natureza da linguagem . Para
desenvolver tal conceito a autora busca apoio em duas abordagens , a do dialogismo bakhtiniano e a
psicanálise freudo-lacaniana.
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