Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 66

comparação dos elementos estruturais indispensáveis no processo de leitura como signo
e a entonação.
Em um primeiro momento, a tendência é acreditar que ao propor a leitura e análise
de enunciados musicais estou falando de um universo do conhecimento completamente
diferente do linguístico pelo fato de pertencerem a diferentes domínios do
conhecimento. Enquanto a linguagem musical seria de competência dos musicistas, a
verbal seria dos linguistas. Entretanto, a tentativa aqui é considerar as diferentes
linguagens como forma de expressão dos sentimentos e sensações, constituídas por
signos que precisam ser decodificados e que apresentam sua forma sonora e escrita, o
que possibilita a leitura, interpretação, expressão, produção de sentido e materialização
do discurso. Aqui considerarei que a expressão é a exteriorização objetiva para outrem
daquilo que se formou no psiquismo do indivíduo com ajuda de algum código de signos
exteriores.
Doravante considerarei a partitura musical como um texto escrito com
linguagem musical, em seus recursos de expressão. Assim como o texto verbal
apresenta sua superfície linguística, o texto musical “representa uma cadeia de artifícios
de expressão que devem ser atualizados pelo destinatário” (Eco,1986, p.35), isto é, a fim
de que haja a compreensão de um texto é necessário a sua atualização por parte do
destinatário, independente da linguagem utilizada e é essencial para a compreensão do
discurso.
Após tal afirmação faz-se mister que sejam delimitadas as concepções de
discurso e compreensão aqui mobilizadas. Uma vez que percebo a leitura como um
processo multimodal que envolve a compreensão, recorro às reflexões de Orlandi para a
delimitação tanto do termo discurso quanto compreensão. Para a autora, “discurso é
efeito de sentidos entre locutores”, e compreender é saber como os sentidos são
produzidos e como as interpretações funcionam. Aproprio-me das reflexões da autora
principalmente pelo fato de ela considerar a produção de sentido a partir de objetos
diversos e não apenas no ato de fala, o que pode ser observado no trecho a seguir.
“Compreender é saber como um objeto simbólico (enunciado, texto, pintura, música
etc.) produz sentido. É saber como as interpretações funcionam. Quando se interpreta já
se está preso em um sentido. A compreensão procura a explicitação dos processos de
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