Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 48

desenvolver uma interação reflexiva, através da linguagem, e em relação com, e na
construção de um mundo objetivo (HABERMAS 1990).
Utilizar os adesivos da Familia Feliz nos situa no contexto social, porque assim
podemos enunciar quem somos, atribuímos a nós e a nossas famílias uma identidade
como entendemos que ela seja; sou casado, tenho um gato e um peixe, sou santista,
gosto de fazer churrasco, minha esposa é enfermeira e etc.
As imagens, algumas vezes, são acompanhadas de frases como: “Família Feliz”,
“Grande Família”, “Minha família, minha vida”, “Amo minha família” e etc. que são
enunciados que repetem sem o recurso da retórica (falam por mim, dizem como sou
como é minha família ou como entendo que ela seja) e prendem as coisas na armadilha
da grafia. Associa a invencível ausência da qual as palavras são incapazes de triunfar,
impondo-lhes, pelas habilidades de uma escrita que joga no espaço, a forma visível de
sua referência: sabiamente dispostos, os signos invocam do exterior, pelas margens que
desenham, pelo recorte de sua massa no espaço vazio, a própria coisa de que falam. E,
assim fazem emergir a rede das significações que as nomeiam, as determinam, as fixam
no universo dos discursos (FOUCALT 2004).
Utilizar os adesivos pode ser uma maneira de se tentar dizer “quem é”, porém,
como nos assinala Arendt, a própria linguagem induz a dizer “o que alguém é”,
reservando um lugar de destaque ao papel social, ao qual se agrega outras qualificações
pelo social, que se substância constituindo-se em atributos classificatórios e definidores
(ainda que momentâneos) do eu, como por exemplo: atividade, força, beleza, lazer,
honestidade, etc (ARENDT 1981).
Sentir-se como sendo “alguém”, e não como sendo “quem”, pode
justificar a importância atribuída ao papel que representamos na família, e perder esse
papel pode significar perder o próprio “eu” (ou parte dele), então enunciar o que não se
quer perder é uma tentativa de mantê-lo ou torná-lo.
Uma das famílias que entrevistei era constituída de mãe, pai, filha do
casal, filha do primeiro casamento da mãe que mora junto e filha do primeiro casamento
do pai que mora com a mãe em outra cidade. Até ai, tudo bem não fossem os adesivos
fixados aos veículos do casal, no carro da mãe temos as figuras da mãe, do pai, das duas
filhas e do cachorro, já no carro do pai os adesivos são como os do carro da mãe mais a
filha dele que mora com a ex-mulher. Como representado a seguir.
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