Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 452

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aos alunos, mas não ao professor, pois, assim, normaliza-se o professor que normaliza o
aluno. O ensino, para a mídia, não passa do exercício de técnicas que podem ser ditadas
passo a passo. Mas Castro ainda se dispõe a (re)afirmar esses meios já definidos e
eficientes para se ensinar, por isso, divulga suas ideias a fim de comprová-las.
Nessas faculdades eles ouvem falar dos livros de muitos autores, vivos e defuntos,
nenhum dos quais ensina a dar aula. Em compensação, estudam as mais exaltadas
teorias, tais como a luta de classes, a exploração do homem pelo homem, o
imperialismo cultural, os intelectuais orgânicos e a psicogênese do conhecimento. É
como se inclusão de algum fragmento de sapiência fosse condicionada a não ter
nenhuma aplicabilidade na sala de aula.
O que temos nesse fragmento é a (re)construção de saberes, já que o articulista
se posiciona de forma contrária às metodologias adotadas nas faculdades de educação. É
uma crítica demolidora ao afirmar que os cursos das faculdades não incluem qualquer
"fragmento de sapiência que possa ter alguma aplicabilidade em sala de aula" (grifo
nosso). Nesse sentido, a mídia insiste em ocultar deliberadamente aspectos da realidade
que podem permitir ao cidadão apreender mais amplamente os fatos, emitindo um juízo
livre, pessoal, completo e não dirigido em relação aos fatos em questão. É o que nos
mostra o exemplo dado por esse articulista ao dizer que
o educador chileno Ernestro Schiefelbein diz que um médico pode abrir um livro de
cirurgia e ficar sabendo dos procedimentos aconselhados para uma apendectomia. Um
educador deveria ter também um livro que pudesse consultar quando quisesse saber
como ensinar a regra de três.
Nesse trecho, a relação entre a primeira e a segunda frase permite inferir que o
enunciador confere à expressão “saber como ensinar” o sentido de doutrinar os alunos a
partir de um modelo, o livro. Entretanto, nessa generalização a respeito do sentido dessa
expressão, apaga-se o discurso médico que vai além de seguir meros livros-receitas. Se
isso fosse possível, para que serviriam as faculdades de medicina? Bastam-nos os bons
livros. Trata-se de uma argumentação falaciosa e de uma comparação equivocada,
afinal, quem se submeteria a qualquer procedimento médico sabendo que este se guia
apenas por um livro? Destacam-se, portanto, os mecanismos disciplinares que tentam
capturar as subjetividades dos indivíduos ou mesmo padronizá-los para que hajam como
meras peças imersas na engrenagem da escola. Assim, no discurso midiático que se
cruza com o pedagógico, o sentido de onipotência se materializa no lugar de um saber
incontestável, que é um dos modos de funcionamento do poder sobre um saber legítimo.
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