Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 168

Partindo das reflexões de Foucault a respeito da relação entre discurso e poder,
este trabalho se preocupa em pensar a mídia como partícipe necessária de um jogo
discursivo no qual a ordem extrapola o linguístico (outrora relegado) e, mais que isso,
reclama o não discursivo para que possa ser compreendida. Entendemos que em
diferentes momentos, nas relações humanas, parece que se instalam diferentes
possibilidades do que deve aparecer e do que deve ser dito, ou seja, que se instalam
práticas discursivas, não necessariamente tangíveis no sistema da língua, que regulam
mudanças nos regimes de discursividade de uma época e, a partir disso, tornam
possíveis e aceitos alguns enunciados e outros não.
Assim, esse texto se volta a entender de que forma a mídia pode funcionar
como dispositivo de poder, de controle de condutas e da memória, ao participar de uma
rede que organiza saberes e poderes e, enfim, constitui subjetividades, formas de nos
produzirmos, levando o indivíduo, por meio de um poder disciplinar, e o sujeito-
espécie, por meio de um biopoder, por exemplo, a se inscreverem em determinadas
posições. Os meios de comunicação de massa talvez formem a esfera que lida mais
diretamente com esses regimes de visibilidade e dizibilidade, na medida em que fazem
circular saberes-verdades, que atuam na sociedade como mais um dos dispositivos
enredados em um jogo de poder que, em última instância, funciona adestrando
indivíduos, tornando-os dóceis e produtivos, e ainda, participa de um sistema que gere o
biológico das espécies ao indicar modos de vidas.
Portanto, pensando com Foucault, não há uma fonte única de poder que tudo
controla; o poder não é mais visto como localizável
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, como numa relação
ideologicamente determinada por uma classe que domina e outra que é dominada, e nem
o Estado, e apenas ele, é percebido como aparelho de exploração de uma classe
alienada; o poder é antes lugar de luta, de disputa e, assim, está disperso em toda a
estrutura social.
Tendo isso em vista, pensamos nas instituições em geral, que como a família, o
sistema jurídico, a escola, a igreja, e também a mídia (por meio de propagandas,
programas jornalísticos e publicidades), formam uma rede microfísica de poderes que
nos impele a tomar decisões e, enfim, nos constituirmos enquanto sujeitos no mundo.
2
Conferir: SILVA, 2004, p. 172.
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