Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 172

onde a disciplina alcança seu ápice como dispositivo” (
ibid
., p.174). Em outras palavras,
a vida biológica define-se como estratégia de poder (com alusão a estatísticas referentes
à natalidade, saúde pública, habitação etc.). O biopoder seria, então, “o conjunto dos
mecanismos pelos quais aquilo que na espécie humana, constitui suas características
biológicas fundamentais vai poder entrar na política, numa estratégia política, numa
estratégia geral do poder” (FOUCAULT, 2008b, p. 03).
Essas peculiaridades do poder que Foucault irá detectar e estudar, formam,
porém, campos específicos de estudo e envolvem diferentes linhas de pesquisa, nas
áreas de Filosofia, Sociologia e História, por exemplo. Levando em conta a grandeza do
tema do poder, é preciso definir o que nos interessa mais aqui, principalmente devido à
possibilidade que este pequeno texto pode abranger. Ora, o que propomos é pensar a
articulação entre as relações de poder e as instâncias do discurso. Ao refletir sobre a
ordem do discurso
, fica claro que não há uma relação transparente e neutra entre as
palavras e as coisas, ou seja, os discursos vão constituindo saberes por meio de um
processo não aleatório ou apenas pelas regras do sistema da língua, antes, os fatores que
constituem o não linguístico são preponderantes na definição das
verdades
componentes
do repertório do saber das sociedades.
Desse modo, para se entender as complexas afinidades entre poder e discurso,
não podemos encarar o sujeito da prática discursiva como aquele que se expressa livre e
criativamente, de acordo com seus desejos e vontades, porque é competente enquanto
sujeito falante para construir as frases gramaticais que desejar; quando pensamos em
discurso necessariamente teremos “regras anônimas, históricas, sempre determinadas no
tempo e no espaço” (FOUCAULT, 2008a, p.133), práticas discursivas e não-
discursivas, que definem as condições de exercício da função enunciativa.
É necessário, portanto, estabelecer aqui um parêntese. Veja que trazemos as
chamadas
fases
de Foucault, de forma didática e sistemática, para tentar definir os
momentos em que o autor faz uma arqueologia ou que faz uma genealogia, mas
sabemos que muito da bibliografia de Foucault vem da reunião de cursos ou aulas
ministradas e depois compiladas e que, sendo assim, temos acesso a um pensamento
vivo, que está sendo construído e muitos vezes sendo refeito e revisado por ele mesmo.
Assim, quando dizemos que Foucault se volta a pensar o poder, é importante ressaltar
que ele mesmo já indica na aula de 11 de janeiro de 1978, no
Collége de France
, que ao
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