Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1192

A produção do sentido desse fragmento se faz sobre a oposição de base /amor/
versus /traição/. Luísa é arrebatada pela paixão e corre aos braços de seu primo Basílio,
traindo seu marido. Na narrativa, há a negação ao amor pelo marido e afirmação à
paixão pelo amante manifestada por uma debreagem enunciva. Pela manifestação de um
ela (Luísa), por um tempo passado predominantemente no pretérito imperfeito, e por um
espaço lá, produziu-se uma leitura compreensiva do sentido do texto.
Semântica Discursiva
A figurativização e os temas
Há uma coerência semântica instalada no texto por meio do revestimento dos
valores do nível narrativo em temas e o seu recobrimento por figuras. Tematização e
figurativização são dois níveis de concretização do sentido. Ao se tomar um texto
figurativo, é necessário descobrir o tema subjacente às figuras, pois para que estas
tenham sentido precisam ser a concretização de um tema, que, por sua vez, é o
revestimento de um esquema narrativo (FIORIN, 1999, pp. 64-66).
O texto em análise é figurativo. Nele representa-se o mundo com a solidão, o
toque, os passos, o piano, os fados, Jorge – sequência 1; o amante, o divã, a solidão, as
lembranças, o primo, a ária do Fausto, os braços e os beijos – sequência 2; a empregada,
o charuto, o divã, a travessa de tartaruga – sequência 3. É preciso que, na leitura,
encontremos os temas subjacentes que dão significados a essas figuras. Segundo a teoria
greimasiana, “as figuras são organizadas em grupos, encadeadas umas às outras e essa
rede de figuras chama-se percurso figurativo” (PLATÃO & FIORIN, 1996, p. 98). Os
percursos figurativos do texto remetem aos temas do amor, da traição, da subornação.
A figurativização do amor surge com a oposição entre a paixão, a traição e a
subornação, por meio da ideologia do autor. Por detrás da ironia fina e implacável, Eça
põe em cheque o mito racionalista da neutralidade do sujeito, da sua isenção perante o
que narra, mostrando a parcialidade que está implícita no ato de narrar. Ele mergulha
em busca do real, deixando de lado todas as suas aparências enganadoras, todas as suas
esquematizações simplificadoras.
O percurso figurativo greimasiano analisado poderá ser assim figurativizado no
esquema daviliano, “complementando o levantamento dos campos semânticos”:
QUADRO Nº 2 – Esquema daviliano do percurso figurativo
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