Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1191

O discurso é um processo de produção de sentido, por meio de um texto. A
significação corresponde às relações entre sujeito enunciador e enunciatário, ou seja, o
sentido do texto é construído na decodificação do enunciatário, pelo modo como o texto
é percebido por ele. A sintaxe discursiva analisa as marcas da enunciação no enunciado.
No ato de produção do discurso, a enunciação deixa suas marcas e, conduzida pelo
enunciador, busca persuadir o enunciatário, realizando sobre ele um fazer persuasivo
que o transporta ao fazer interpretativo, assumindo o ato manipulador. “Para exercer a
persuasão, o enunciador utiliza-se de um conjunto de procedimentos argumentativos,
que são parte constitutiva das relações entre o enunciador e o enunciatário” (FIORIN,
1999, p. 40). Esse processo se faz por meio dos procedimentos de actorização,
espacialização e temporalização, ou seja, a constituição das pessoas, do espaço e do
tempo do discurso, que permitem a identificação referencial assumida pelo enunciador.
São componentes da discursivização.
Outros dois procedimentos da enunciação podem ser identificados: a debreagem
enunciativa (efeito de proximidade do sujeito, do espaço e do tempo em relação à
enunciação e ao enunciado – eu – aqui – agora ); e a debreagem enunciva (efeito de
distanciamento do sujeito, do espaço e do tempo em relação à enunciação – ele – não
agora = então - lá). Esses elementos definem a instância da enunciação.
Introduzindo essa definição no fragmento do romance, teremos: ao projetar a
enunciação, o sujeito dirige-se a uma escolha de pessoa (
ele/ela)
: “Luísa vestia-se para
ir à casa de Leopoldina” – sequência 1; um tempo (
não agora = então)
: “Fazia-lhe tanta
falta o seu toque de campainha, os seus passos no corredor” – sequência 1; e um espaço
(
lá)
: “Que seca, estar ali tão sozinha!” – sequência 2. Operou-se, portanto, por meio da
utilização de pronomes e verbos, uma debreagem enunciva.
Quanto à temporalidade – não agora, então – é não concomitante em relação ao
momento da enunciação. O tempo passado, identificado ora pelos verbos – estava,
adorava-o, tinha, fizeram – ora nas expressões temporais – “De manhã, ainda tinha os
arranjos, a costura, a
toilette
, algum romance...” sequência 1, “começou lentamente a
dar nove horas” sequência 2 – marca a narração de fatos de um tempo de então, anterior
ao momento da enunciação.
Quanto à espacialidade – ali, lá – a não ambiência compõe a projeção realizada
pelo enunciador.
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