Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1150

temas desenvolvidos, já que a figurativização é um segundo nível de concretização em
relação à tematização, na construção do discurso.
“Quando tomamos um texto figurativo, precisamos descobrir o tema
subjacente às figuras, pois para que estas tenham sentido precisam ser a concretização
de um tema, que, por sua vez, é o revestimento de um esquema narrativo” (FIORIN,
2009, p. 92). À primeira vista, poderíamos dizer que os temas subjacentes às figuras
presentes em “O Prego” são: a ação repetitiva do martelo sobre o prego, o martelar;
opressão e resignação junto a revolta e vingança; abuso de poder e revolução; certeza da
revanche.
Como vimos no item anterior, os dois programas narrativos que se
destacam no texto dizem respeito à
performance
e à sanção. Considerando os processos
de tematização e figurativização de cada um deles, teríamos: tematização da
performance - bater repetidamente, abusar; figurativização da performance - martelo
que passa o tempo todo batendo no prego; tematização da sanção – revolta, vingança,
revanche; figurativização da sanção - o prego lançando sua ponta afiada na pança do
martelo.
Aprofundando um pouco mais a análise das estruturas discursivas do
poema em questão, faz-se necessário observar os percursos figurativos que se
apresentam, ou seja, o encadeamento entre as figuras, a rede de relações que elas
estabelecem entre si. “Ler um texto não é apreender figuras isoladas, mas perceber
relações entre elas, avaliando a trama que constituem”
(FIORIN, 2009, p. 97).
Em “O Prego”, podemos observar dois percursos figurativos. Um
deles é constituído pelas relações entre as figuras: martelo, batendo, prego e ponta
afiada. Essas figuras constituem ações ou atributos próprios do prego e do martelo,
caracterizando o percurso figurativo do trabalho com ferramentas, numa oficina ou
marcenaria. Pode remeter também ao trabalho mais pesado, até mesmo braçal,
geralmente realizado por trabalhadores que possuem pouca escolaridade e que
geralmente ocupam posições de mão de obra, de posições inferiores na hierarquia de
empresas. Assim, podemos dizer que o tema que dá sentido a este percurso seria esse
tipo de trabalho humano. O papel deste percurso no texto seria caracterizar ações
repetitivas e com o uso da força, nesse contexto determinado, com sua lógica própria.
O outro percurso figurativo advém das figuras: batendo, cansa, lança,
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