livros, chegou até mesmo a criticar os católicos por suas convicções que julgava
essencialmente dogmatizadas tal como, por exemplo, quando afirmou: “Ninguém deve
respeitar crenças, que lhe pareçam falsas. Está, não no seu direito, mas no seu dever,
combatê-las. O que se deve sempre respeitar é o direito de cada um crer no que quiser”
(ALBUQUERQUE, 1942, p.331).
Na conferência, Medeiros novamente evidenciou seu ateísmo com o seguinte
comentário: “[...] quem tenha sua opinião deve mantè-la contra S.Paulo, contra o
Espírito Santo, contra o céu inteiro” (ALBUQUERQUE, 1916, p.107). Portanto, nada
mais natural que o ousado escritor mostrasse desapreço pelo casamento, chegando
mesmo a compará-lo ironicamente com uma praça sitiada, ao dar conselho aos ouvintes
de forma leve e bem-humorada: “os que estão nela querem sair, os que estão fóra
quereriam entrar. –Entrem; e depois conversaremos” (ALBUQUERQUE, 1916, p.128).
Por ora, outro tema social que aparece bem marcado no discurso do Medeiros e
Albuquerque é o machismo da época. Em um determinado momento, ele teceu o
comentário: “mas ás mulheres nós não damos siquer o direito de queixa. O cazamento
nunca fecha de todo o homem dentro do seu cárcere: deixa-lhe sempre abertas para
fóra” (ALBUQUERQUE, 1916, p.149). Em seguida, até fez uma referência implícita ao
adultério masculino, afinal de conta, o homem usufrui de maior liberdade social:
“quando ele não escancara a porta e saí dezabuzadamente, tem frestas, postigos,
alçapões” (ALBUQUERQUE, 1916, p.149-150).
Ademais, segundo a concepção do conferencista, a fidelidade na união conjugal
não existe, pois para o homem: “[...] a mulher do próximo sempre lhes parece melhor
que a sua” (ALBUQUERQUE, 1916, p.151). O casamento é visto como algo benéfico
apenas para as outras pessoas, conforme o trecho: “cazar é uma loteria. Já alguém disse
que a sorte grande é uma couza que sai aos outros” (ALBUQUERQUE, 1916, p.151).
Em suma, usando uma linguagem bastante acessível (tanto que ela pode ser
entendida até os dias atuais), Medeiros e Albuquerque procurou atingir uma intimidade
maior com o público, de forma até mesmo a produzir um clima bastante familiar quando
declamava suas conferências. Agindo assim, ele conseguiu, com grande naturalidade,
abordar temas sociais bastante polêmicos na época, o que contribuiu para o
enriquecimento dos seus textos orais.