Para entendermos um pouco mais dessa relação, recorremos à semiótica
francesa, que se mostra apropriada não só para o estudo das diferentes linguagens que
permeiam e constroem nosso espaço social, mas também para a análise da relação entre
elas. Assim, para a semiótica, tal relação se destaca como sincretismo, que pode ser
entendido como a interligação estabelecida entre linguagens num determinado texto no
qual a construção do sentido se torna decorrente dessa relação.
O sincretismo pode ser observado intensamente em nossos dias em diferentes
meios de comunicação, entretanto, neste artigo, pretendemos nos ater à análise de
apenas alguns textos em cujas composições revelam o sincretismo como principal
elemento de construção do sentido.
Analisaremos gêneros que utilizam o recurso dos (ambi)caligramas, entendidos
por nós como uma tentativa de recriação do signo linguístico e do signo visual gerando
o signo iconográfico, o qual funde em si traços da letra e do desenho numa combinação
de diferentes planos de expressão.
Nesse caso, uma vez que o plano de expressão só permite a manifestação do
sentido (ali construído) através da complementação que o traçado verbal concede ao
visual e vice-versa, ou seja, aquilo que é característica específica de uma linguagem
passa a ser elemento significativo de outra linguagem, estamos diante de singulares
textos sincréticos que se apresentam como uma combinação de diferentes planos de
expressão para formar outro plano de expressão o qual, por sua vez, estará atrelado a um
plano de conteúdo exclusivo para esta forma de expressão.
Semiótica e sincretismo
A semiótica, campo de investigação que se constrói a partir de meados do século
XX, consolida-se, entre outros fatores, como a teoria que possibilita o alargamento do
conceito de linguagem ao conjunto dos sistemas de significação verbais ou não-verbais.
Greimas e Courtés (1979, p. 259) declaram que:
Partindo do conceito intuitivo do universo semântico, considerado como o mundo
apreensível na sua significação, anteriormente a qualquer análise, tem-se o direito de
estabelecer a articulação desse universo em conjuntos significantes ou linguagens, que
se justapõem ou se superpõem uns aos outros. Pode-se igualmente tentar indicar
algumas características que parecem aplicar-se ao conjunto das linguagens. Assim,
todas são biplanas, o que quer dizer que o modo pelo qual elas se manifestam não se
confunde com o manifestado [...]