sugerem uma relação fundamental entre ambas”. Essa ideia coincide literalmente com o
axioma gestaltiano, que perpassa toda a criação ambigramática. Os ambigramas
encontram-se, então, no limite enevoado entre diferentes ordens de percepção,
configurando uma dialética visual híbrida e ambígua. Híbrida, porque funde
carnalmente a visualidade plástica com uma função semântico-pragmática, criando
literalmente uma nova fisicalidade da palavra. Ambígua, porque faz uso extensivo de
vários recursos da Gestalt-theorie, enganando o olhar de modo a conseguir seus
estranhos e criativos resultados (AMBIGRAMA, 2011).
É nesse sentido que fazemos menção ao aparecimento do signo iconográfico
(ícono- > imagem e -grafia > escrita) que parte do visual e do linguístico, expandindo-se
para além deles.
Outra modalidade derivada dos ambigramas é chamada de ambicaligramas.
Estes, além de serem construídos pela combinação e (re)organização entre desenho
(traços visuais) e palavra (letras), compartilham sua forma gráfica com uma figura
visual, podendo ser rotacionais ou oscilantes – ora parecem letra, ora parecem desenho.
Os ambicaligramas, ao associarem palavra e imagem numa interação constante e
indissociável, produzem uma circularidade reflexiva criadora de sentido em um texto.
Neste caso, o sincretismo é mais do que a soma entre duas linguagens que estão
colocadas lado a lado, é a multiplicação das linguagens fundidas numa inédita e singular
expressão que produz o sentido do texto.
Sincretismo em diferentes gêneros e épocas
Como já dissemos anteriormente, o sincretismo está presente em nossos dias de
uma forma muito intensa. Atualmente, o desenvolvimento tecnológico contribui para o
aparecimento de novos recursos materiais que ampliam a possibilidade de manifestação
do sincretismo. Entretanto, o homem, ao longo da história, sempre explorou suas
habilidades comunicativas para criar, poética e plasticamente, seus textos.
Guimarães (2007) descreve minuciosamente o percurso histórico do que se
denomina poesia visual. A pesquisa apresentada por esta autora retoma a Antiguidade,
com a apresentação do poema
O ovo
de Símias de Rodes, passa pelo período carolíngio
(1200 anos depois de Símias de Rodes), atinge o período Barroco, considerado pela ela
como aquele em que se verifica o início efetivo de um percurso da visualidade até
chegar ao século XX.