Jornal Nosso Câmpus - Ano VIII ed. 24 - outubro de 2014 - page 3

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LITERATURA
Natani Gonçalves
XIISemináriodeestudosliterários
“Avatares do folhetim”
O folhetim de ori-
gem francesa foi tra-
zido para o Brasil em
meados do século XIX.
Circulavam em peri-
ódicos - publicações
regulares - destinados
à corte; os temas eram
divididos em capítu-
los. O jornal ou revista
trazia apenas um capí-
tulo de cada vez. Para
acompanhar o enre-
do, devia-se aguardar
a próxima edição. Os
assuntos
abordados
eram inúmeros, mas o
foco era sempre a con-
dição do ser humano.
As ambientações e
as tramas eram as mais
variadas e conquista-
vam o público leitor;
tratavam-se das regên-
cias periódicas de 1835
com “A cidade e as ser-
ras”, de Eça de Quei-
roz, de um suprassu-
mo da civilização em
1876 com “Viagens da
minha terra”, de Vitor
Hugo, do mercantilis-
mo na imprensa com
Camilo Castelo Bran-
co, que escrevia em
dois jornais usando
pseudônimos que se
contradiziam. Os es-
tudos de contos, nar-
rativas, anedotas, no-
ticias leves, crônicas
literárias, faziam parte
dos folhetins no ano de
1830 na França e já em
1840 serviram de la-
boratório aos escrito-
res brasileiros, em seus
escritos, como José de
Alencar, Joaquim Ma-
noel Macedo, Macha-
do de Assis, Aluízio de
Azevedo, Raul Pom-
péia, Olavo Bilac, com
obras
fundamentais
para a literatura bra-
sileira, a exemplo do
“Guarany”, de José de
Alencar, publicada em
1857 no rodapé dos
jornais,
sequencial-
mente.
Os folhetins antes
só destinados à corte
passaram a ser dirigi-
dos a toda sociedade,
como em 1865, quan-
do crianças apareciam
com jornais nas ruas
do Rio de Janeiro,
destacando-se alguns
deles, como Mágico
Folhetim, Jornal do
Comércio do Século
IXX, O metropolita-
no, Londres, Diário de
Noticias XX, que tra-
ziam crônicas e con-
tos conhecidos como
“contos a vapor”, já que
passavam de estação
em estação, com gran-
de desenvolvimento
desse meio de comuni-
cação.
As informações e os
textos publicados nes-
ses folhetins e as gran-
des obras literárias,
inspiraram a criação,
em 1991, do evento
Seminário de Estudos
Literários (SEL) pelo
Programa de Pós-
-Graduação em Letras,
como formação com-
plementar dos discen-
tes e atualização da área
com reflexões teóricas
sobre a literatura pu-
blicada em periódicos,
sob as rubricas “Varie-
dades” e “Folhetim”,
na Faculdade de Ciên-
cias e Letras de Assis/
UNESP. No Centro
de Documentação e
Apoio à Pesquisa (CE-
DAP - Câmpus de As-
sis) encontram-se um
grande acervo desses
periódicos.
O estudo desses pe-
riódicos possibilita co-
nhecer sua origem, as
grandes obras dessa
época, antes de serem
publicadas em livros,
e as características da
sociedade do século
XIX. Tal foi o alcance
dos folhetins direcio-
nados primeiramente
a um público seleto e,
posteriormente, ao pú-
blico em geral, que deu
origem às radionovelas
e, em 1975, às teleno-
velas. Hoje, as novelas
de cada dia, quereia-se
ou não, fazem parte da
cultura nacional e são
responsáveis por gran-
des mudanças sociais.
A XII edição do
evento ocorreu nos
dias 9, 10 e 11 de se-
tembro e teve na pro-
gramação conferên-
cias, mesas-redondas,
simpósios e comuni-
cações, com pesquisa-
dores de todas as regi-
ões do Brasil e alguns
internacionais como
o professor Ernesto
Rodrigues, da Univer-
sidade de Lisboa, que
proferiu a conferên-
cia “Mágico folhetim”,
Jean Yves Mérian . da
Université Rennes 2,
que apresentou “Os
desafios dos autores
de romances popula-
res ou de romances-
-folhetins no final do
Império (1870-1889)”,
Giorgio de Marchis, da
Università degli Studi
Roma Ter, com o título
“O fim do mundo ca-
berá num folhetim?”
e Jacqueline Penjon ,
da Université Sorbon-
ne Nouvelle – Paris III,
com palestra intitulada
“De um Mistério a ou-
tro”.
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Câmpus
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