ARTIGO
A COMISSÃO DA VERDADE DA UNESP
A Universidade Es-
tadual Paulista instituiu
a sua Comissão da Ver-
dade. Ainda que tardia,
a Comissão quer aclarar
fatos e circunstancias
em que autoritarismo,
repressão política, ar-
bítrio pessoal e institu-
cional combinaram-se
contra o espírito univer-
sitário e a sua efetivação
na Unesp. O foco de atu-
ação não recairá apenas
em perseguições legais e
extralegais sofridas por
estudantes, servidores e
professores. A efetiva-
ção do direito à memó-
ria e à verdade histórica
vai além da apuração de
ocorrências entre 1957 e
1988.
O que floresceu e o
que sobreviveu da ação
do tempo e dos agentes
da ditadura militar em
cada campus? Oque im-
pede que a Unesp figure
entre as universidades
de passado limpidamen-
te conhecido e de rotinas
institucionais
regidas
por valores sociais deste
século? A ética, a trans-
parência ativa e a gestão
participativa terão vigor
nas universidades públi-
cas? Batizada em 1976,
sob a ditadura e a into-
lerância do pensamento
único, a Unesp – e a sua
Comissão da Verdade
– enfrenta o desafio de
acertar o passo com o
espírito do nosso tempo.
Reitor:
Julio Cezar Durigan
Diretor:
Ivan Esperança Rocha
Vice-Diretor:
Ana Maria Rodrigues de Carvalho
Coordenação:
Cláudia Valéria Penavel Binato
Edição:
Equipe do JNC
Textos e Reportagens:
Camila Natália, Marcelo Henrique, Mayara Pavanato, Natani Gonçalves
Revisão:
Cláudia Binato
Diagramação:
Mayara Pavanato
Colaboração Técnica:
Lucas Lutti
Esta é uma publicação da Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Núcleo Integrado de Comunicação. Comen-
tários, dúvidas ou sugestões, entre em contato pelo e-mail:
Expediente
2
Em primeiro lugar,
será preciso exorcizar
a reencarnação de um
passado perseverante,
inaceitável, e um séquito
de práticas anacrônicas
no dia a dia administra-
tivo, pedagógico e social.
Outro futuro é possível,
oportuno e necessário
para a universidade pú-
blica e para a Unesp, em
particular. A Comissão
da Verdade detém o re-
levante papel de aqui-
latar o ingresso desta
Universidade na era dos
direitos de cidadania e
da democrática.
O trabalho elucidati-
vo sobre os anos pré, de
e pós ditadura em seus
campi não pode ficar
restrito a metas e obje-
tivos pontuais. A Co-
missão da Verdade deve
extrair os benefícios e o
potencial ético embu-
tidos em sua existência
e pleno significado. Ela
pode converter-se em
atitudes e valores insti-
tucionais duradouros,
exercício permanente de
questionamento, de in-
vestigação e de debates.
Haveria valiosa contri-
buição para a formação
continuada de profissio-
nais, aprimoramento do
ser humano e a qualifi-
cação de cidadãos livres
e soberanos.
A organização de um
fórum permanente de
Comissões da Verdade
das universidades pú-
blicas também poderia
encontrar na Unesp o
ponto de partida para
maior alcance social e
cultural,
alcançando
todo o Brasil. É lamen-
tável e injustificável que
o Centro de Documen-
tação e Apoio à Pesquisa
(Cedap), da Faculdade
de Ciências e Letras de
Assis, permaneça, há
mais de dois anos, iner-
te e indiferente às ativi-
dades da Comissão Na-
cional da Verdade, das
comissões estaduais e
municipais e nas univer-
sidades. A dinamização
deste e de outros centros
assemelhados passa pe-
los trabalhos de registro,
preservação, divulgação
e a reflexão sistemática
sobre esta experiência
política singular, as Co-
missões da Verdade. Por
que não temos observa-
tórios das Comissões da
Verdade nos campi da
Unesp?
Por fim, a efetiva com-
preensão e o respeito ao
trabalho das ciências hu-
manas no seio da Unesp.
As Humanidades não se
acomodam a papéis su-
balternos e subservientes
imaginados por alguns
“gestores”. No Brasil, a
estrutura social marcada
por desigualdade, injus-
tiça, pobreza, violência e
discriminação, responde
pela deformação do tra-
balho na universidade e
nutre uma desesperada
necessidade de crítica
social. Na ausência des-
ta a educação e a ciên-
cia são presas fáceis da
tecnocracia e não aten-
dem ao interesse públi-
co e humanitário que
as trouxe ao mundo. O
astigmatismo na educa-
ção e nas ciências serve
à legitimação e repro-
dução da intolerância
e da opressão, rejeita o
sentido maior da uni-
versidade, da igualdade
e da democracia. Não há
universidade sem a re-
novação do pensamento
livre, crítico, inconfor-
mista.
A Comissão da Ver-
dade da Unesp reúne
todas as condições para
satisfazer plenamente as
expectativas que moti-
varamasuaconstituição.
Tenho confiança que ela
desponte como vetor na
promoção do trabalho
criativo na universidade
pública e do papel so-
cial desta na felicidade
humana no cotidiano.
Aqui também estão da-
das todas as condições
para a realização desta
esperança junto à comu-
nidade universitária.
Professor Paulo Henrique
Martinez
Docente do Departamento
de História - UNESP/Assis
Nosso
Câmpus
outubro 2014