Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 541

escolhidos a fim de realizar esta pesquisa. Como se trata de um artigo procurar-se-á
especificar alguns textos. Em Dostoiésvki os textos escolhidos são:
Memórias do
Subsolo
(1864),
Crime Castigo
(1866),
O Idiota
(1868),
Os Demônios
(1872),
Bobók
(1873),
O sonho de um homem ridículo
(1877) e
Os Irmãos Karamázov
(1880). Em
Nietzsche deter-se-á nos seguintes textos:
Sobre verdade e mentira no sentido extra-
moral
(1873),
A gaia ciência
(1882),
Assim falou Zaratustra
(1883),
Crepúsculos dos
ídolos
(1889).
Em
Memórias do subsolo
, Dostoiévski descreve um homem preocupado com o
olhar do outro, uma preocupação constante nesta história. O herói da novela demonstra
certo incômodo com o que irão dizer ou pensar sobre si, inquietação que reflete a
angústia da personagem que se vê só e miserável. Miserável em termos econômicos,
mas que tem a grandeza de seu intelecto antecipada em vários momentos. Trata-se de
uma personagem nobre e diabólica, características que tornam perceptível certa
dubiedade na índole desta personagem anônima, o autor não criou um nome para ela. O
caráter anônimo demonstra a universalidade do autor, pois esse homem não é um ser
específico determinado, mas pode-se pensar em vários homens, isto é, no universal.
Porém, é mister salientar que as personagens de Dostoiévski não apresentam
características fixas ou específicas, como lembra Bakhtin:
A personagem não interessa a Dostoivéski como um fenômeno da realidade, dotado de
traços típico-sociais e caracterológico-individuais definidos e rígidos, como imagem
determinada, formada de traços monossignificativos e objetivos que, no seu conjunto,
respondem à pergunta: quem é ele? A personagem interessa a Dostoiévski enquanto
ponto de vista específico sobre o mundo e sobre si mesma, enquanto posição racional e
valorativa do homem em relação a si mesmo e à realidade circundante. O importante
para Dostoiévski não é o que sua personagem é no mundo mas, acima de tudo, o que o
mundo é para a personagem e o que ela é para si mesma (BAKHTIN, 1981, p 39).
Novela publicada em 1864, com traços estilísticos confessionais, que é um dos
procedimentos do autor na sua composição, pois é assim que é declarada a verdade
interna deste homem. A autoconsciência presente em seus personagens e a tragicidade
que percorre a história de cada um de seus heróis revelam a preocupação do autor com a
alma humana. Tal preocupação consiste em criar uma narrativa que abarque o universo
humano, ou melhor, a psique humana. De acordo com a presente leitura, Dostoiévski
não só inovou no estilo literário e no modelo artístico ao criar o romance polifônico
como descrito por Bakhtin, mas retratou dialeticamente a personalidade humana:
indiscutivelmente, este autor soube como ninguém aproximar literatura e filosofia. Esta
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