Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 546

Quem é o autor? Este irá aparecer no texto, no entanto, às vezes escapa,
principalmente se seguirmos certos padrões estéticos tradicionais. Torna-se necessário
entender que esse autor possui um estilo, que foge às regras convencionais estéticas da
época. Em
Bobók,
também irá aparecer a preocupação com a verdade, o questionamento
sobre ela aparece na fala de uma das personagens. “Na terra é impossível viver e não
mentir, pois vida e mentira são sinônimos; mas com o intuito de rir, aqui não vamos
mentir” (DOSTOIÉVSKI, 2005, p.35). Esse desvendar, essa busca pela verdade
também aparece em
O Idiota
precisamente na fala da personagem Nastácia Filíppovna.
Cabe ressaltar aqui que a preocupação nesta análise não é adentrar-se no gênero usado
por Dostoiévski, que se abre para tal colocação, o fundamental é a percepção de que a
verdade é uma proposta a ser considerada em seus romances.
Dessa forma, esta tentativa de aproximação entre Nietzsche e Dostoiévski é
cabível, pois ambos discutem, a partir de olhares diferentes, os mesmos temas que são
pertinentes à humanidade. Sabe-se do risco da interpretação e o quanto é necessário ter
o devido cuidado com textos filosóficos e literários, preocupação que será constante.
As fronteiras que separam esses escritores são tênues, pois esses dois autores
trataram em alguns momentos dos mesmos conceitos e idéias, mas por caminhos ora
filosóficos ora literários, ou seja, a mesma matéria poética e/ou conteúdo aparece nesses
autores, mas o olhar é outro, por isso existe a possibilidade de tal diálogo. Um diálogo
quase inesgotável. Os vários conceitos que percorrem a obra desses pensadores têm-se
mostrado próximos, ainda que tratados sob ângulos diferentes.
As preocupações com o niilismo, a mentira, a verdade e a liberdade estão
presentes tanto em um como em outro. Talvez se possa argumentar que tais conceitos
também são discutidos por outros filósofos ou escritores, entretanto, foram esses
pensadores que literalmente inovaram dentro do seu universo. Autores contemporâneos,
Dostoiévski e Nietzsche, pertencentes ao mesmo contexto cultural europeu, sofreram
semelhantes críticas e incompreensões por suas obras, que falavam para a modernidade.
Nietzsche foi leitor de Dostoiévski e percebeu que este autor, em sua profundidade, era
um homem que buscava artística e filosoficamente perguntas e respostas para as
mesmas inquietações.
O filósofo Ronald Hayman, em um texto que se intitula
Nietzsche
, demonstra as
proximidades entre esses:
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