O
ethos
corresponde à construção da imagem do enunciador (física e psíquica)
por meio do discurso. No entanto, essa imagem criada não é a de um sujeito real, mas
de um sujeito construído pelo discurso. Maingueneau (2008) denomina esse sujeito
discursivo como “fiador”. É este que possui um caráter, uma corporalidade que varia
segundo os textos e um tom que atesta o dito.
Os sujeitos, ao aderirem a certas posições, deixam marcas na construção de seu
discurso, apresentando um posicionamento discursivo que remete à forma pela qual eles
“habitam” na sociedade: a imagem do sujeito na cena a ele relacionada.
Fiorin (2004), retomando conceitos emprestados da retórica aristotélica, afirma
que para produzir uma imagem positiva de si mesmo (
ethos
) o enunciador pode utilizar
três qualidades que inspiram confiança:
phrónesis, areté e eunóia.
Portanto, um
discurso inspira confiança se os enunciados são sábios, razoáveis e prudentes
(
phrónesis
), se são honestos, sinceros e buscam justiça (
areté
) e se são solidários,
amigáveis e amáveis (
eunóia
).
Ainda segundo Maingueneau (1993), o e
thos
do enunciador é constituído de três
formas: do caráter (características psíquicas do enunciador), do corpo (características
físicas, representação do corpo do enunciador) e do tom (maneira como o discurso é
enunciado).
Portanto, a encenação da enunciação é baseada na cenografia do discurso, em
que é representado o discurso na situação de enunciação; na eficácia discursiva, tendo
em vista o recurso linguístico utilizado; e no imaginário discursivo obtido a partir da
voz atestada por um corpo condizente com a cenografia e com o código linguístico
utilizado. (Maingueneau 2008, p. 54).
Cenografia do
rap
curitibano
Neste trabalho será analisada a cenografia dos
raps
curitibanos, dos anos de 2008
e 2009, a fim de verificar se há ou não apreensão do discurso positivo sobre a imagem
criada para Curitiba.
Inicialmente, foi possível verificar que o
rap
, diferentemente de outras cenas
genéricas, permite cenografias variadas.
