Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 407

LE DEMI-MONDE
(1855) DE ALEXANDRE DUMAS FILHO E O
ETHOS
BURGUÊS
SANTOS, Silvia Pereira
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RESUMO:
O presente trabalho propõe-se a identificar e descrever os traços do
ethos
burguês presentes no texto da peça
Le demi-monde
(1855), de Alexandre Dumas Filho,
considerando tanto a imagem construída pelo enunciador no discurso, ou o
ethos
propriamente dito, quanto sua imagem preexistente (
ethos
prévio ou pré-discursivo),
além do conjunto de valores incorporados no discurso, ou seja, a aproximação do
ethos
com o
habitus
. É dada ênfase às personagens, as quais identificamos como porta-vozes
do autor e que figuram como elementos principais da cenografia enunciativa da peça.
PALAVRAS-CHAVE:
cenografia enunciativa, drama burguês, enunciação,
ethos
,
habitus
.
Se definirmos o
ethos
como uma imagem de si projetada pelo enunciador,
veremos que Dumas Filho lança mão deste recurso da retórica aplicada à análise do
discurso a fim de demonstrar quem é e a quem seu teatro se destina. Servindo-se de suas
personagens como porta-vozes de seu próprio discurso, o autor se aproxima de seu
público alvo ao representar em cena problemas, costumes e estilo de vida que
concernem à burguesia parisiense do Segundo Império Francês.
Com pobres didascálias
iniciais, que não fornecem indicações de cenário –
figurino, iluminação -, são as didascálias expressivas, ou seja, aquelas que guiam a
interpretação precisando tom, sentimento e pantomima, e principalmente os diálogos
pseudo-descritivos
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as ferramentas utilizadas por Dumas Filho para atingir o público.
Tudo isto faz de suas personagens o centro da
mise en scène
e, consequentemente, de
sua cenografia enunciativa: é por meio das personagens, com seus diálogos, que o texto
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Mestre em Letras Neolatinas, área de concentração Estudos Literários Neolatinos, opção Literaturas de
Língua Francesa. Grupo PRISMA, Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro/Brasil,
mailto:silviaufrj@yahoo.com.br
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Segundo Rullier-Theuret, por vezes fala-se em “didascálias internas”, termo que amplia sobremaneira a
noção de didascália (tudo poderia ser considerado didascália) e afasta-se da definição inicial: “O termo
didascálias (do grego
didascalia
, ‘indicações dadas ao ator pelo poeta dramático’), é mais englobante que
a expressão ‘indicações cênicas’, pois designa a parte do texto escrito que não é pronunciado pelos
personagens: indicações de nomes, de estruturação (ato, cena), de cenário ou de gestos”. RULLIER-
THEURET, 2003, p. 7 -16.
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