Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1209

Representações do interlocutor levam o sujeito a pressupor, antecipar, respostas,
definir um lugar para seu enunciado. Já no começo da “conversa”, definem-se os papéis
sociais dos sujeitos envolvidos na enunciação. São professora e aluna. As referências ao
papel da professora se dão por meio da forma de tratamento e, principalmente, pela
preocupação em escrever corretamente. São marcas do outro social que se evidenciam no
discurso da escrevente. Marcas das práticas institucionalizadas: a escola corrige, a
professora corrige. A noção de erro está vinculada à percepção do outro. A professora de
língua portuguesa representa a instituição escolar, tem sua imagem fortemente relacionada
às práticas escritas tradicionalmente trabalhadas na escola, portanto, traz consigo o estigma
da correção, das noções de certo ou errado. É preciso “escrever certo” na presença da
professora. Nota-se aí a representação do caráter normativo da escrita praticada na escola:
escrever bem é escrever “certo”, sem erros ortográficos ou de concordância.
O uso da linguagem não verbal materializada pelo emoticon ─ a “carinha” suando
de medo─ demonstra o posicionamento do sujeito diante daquilo que enuncia. Não se trata
apenas de emotividade, mas da demarcação de um lugar próprio diante do outro, são
tentativas de delimitação do sentido. Ao finalizar o enunciado verbal com o emoticon, a
escrevente negocia com seu interlocutor os possíveis efeitos de sentido que o enunciado
poderia desencadear. O mesmo acontece com o uso da expressão “kkk”, que no contexto
da conversa funciona como uma onomatopeia do riso. A associação desses dois recursos
parece demonstrar que a escrevente oscila entre descontração e nervosismo na presença do
outro, entendido aqui como “parte da instituição escolar”.
A conversa continua por mais quinze minutos num tom amigável, mas superficial.
Nenhum assunto íntimo ou confidencial é tratado. Fala-se de moda, cabelo, beleza.
Predomina o uso da norma padrão por parte de ambas as escreventes: professora e aluna.
Até que num dado momento, a aluna propõe à professora que abandonem a preocupação
com a escrita correta das palavras.
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