Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1205

semióforo, Conceição aponta dois radicais de origem grega.
Semeîon,
que pode ser
traduzido por “signo, sinal”. E
phóros
, que por sua vez traz o sentido de “conduzir, expor,
levar para frente”.
Assim, um semióforo pode ser entendido como um signo (visível) que aponta,
conduz a algo que está além (invisível). Entendida enquanto semióforo, a língua torna-se o
signo maior de uma nação. O traço maior de identidade e de unidade de um povo num
dado espaço geográfico. Entretanto, para garantir seu estatuto de semióforo, a língua deve,
necessariamente, manter traços de homogeneidade. Tal garantia se dá pela seleção de uma
variante linguística que se sobressaia dentre as demais. Não qualquer variante, mas aquela
que representa “a melhor parte” da sociedade, aquela que corresponde à variedade da elite.
A variedade que melhor representa aqueles que se estabeleceram no poder.
Em decorrência das relações de poder, o semióforo mantém-se como símbolo que
desperta o desejo dos sujeitos. Nas palavras de Conceição: “Um semióforo será aquilo que
tem valor simbólico de poder atrair e unir em torno de si pessoas e coisas. Tal
característica pode transformá-lo num tesouro”. Para que esse desejo se mantenha, é
preciso que os sujeitos aprendam que a língua existe e se interessem por ela. Nesse sentido,
a escola, por meio do ensino da escrita, assume seu papel fundamental.
Dominar a língua oficial, a língua modelo, a língua padrão passa a ser visto como
garantia de prestígio social. Como semióforo, a língua reúne pessoas e coisas em torno de
si, bem como elege guardiões de seus valores simbólicos. É na escola, com o auxílio do
professor de língua materna, que se aprende a língua “correta”, a língua padrão. O
professor é um guardião desse valor simbólico. E passa a representar um ideal de perfeição
a ser alcançado. Entretanto, a língua homogênea, padronizada, que se aprende na escola
não corresponde a suas variantes heterogeneamente constituídas fora dela. Cabe à escrita
minimizar esse problema.
Escrita: modalidade enunciativa
Embora tenha se baseado na fala para constituir-se como sistema gráfico, a escrita
alfabética acabou por assumir um grau de pureza superior ao da fala, que, por sua vez,
passou a assumir um estatuto de inferioridade em relação à escrita. A fala está impregnada
de “impurezas” que correspondem aos desvios da norma “correta” que a escrita tende a
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