Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1102

Mas uma importante renovação na teoria semiótica ocorreu com a incorporação
nos anos de 1970 dos estudos da enunciação, que contribuiu, por assim dizer, para a
passagem de um modelo puramente imanestista a uma abordagem extralinguística dos
objetos analisados.
Com uma perspectiva estrutural para descrever o sistema da língua, a semiótica
privilegiava o enunciado e recusada a subjetividade. Descrevia-se qualquer conjunto
significante, independentemente da forma ou da linguagem, com exclusão de qualquer
elemento extralinguístico. A herança estrutural era patente.
Seguindo os ensinamentos de Hjelmslev, a semiótica deveria “necessariamente,
levando as considerações e mudanças da fala, recusar-se a lhes atribuir um papel
preponderante e buscar uma constância que não seja enraizada em uma realidade
extralinguística” (Hjelmslev 1975, p. 15). Predominava, portanto, o princípio da
objetivação, da imanência. Por isso, a enunciação fica nesse primeiro estágio em
segundo plano, excluindo o sujeito do discurso de sua reflexão (Cortina; Marchezan
2004. p. 410-14)
Quando se percebe, no entanto, que o sentido das palavras só consegue
apreender uma parcela do conteúdo, força-se a restabelecer o vínculo entre linguístico e
extralinguistico. Contrapondo-se ao estruturalismo, as teorias enunciativas destacam a
fala, veem a linguagem como ação. O conceito de enunciação impulsiona a linguística a
ultrapassar os limites da língua.
No auge dos estudos enunciativos, na década de 70, a enunciação trouxe um
desconforto à semiótica. Mesmo reconhecendo sua importância, temia-se que ela
promovesse a entrada dos fatores externos na descrição do sentido, mexendo com o
modelo imanente, embasado no estruturalismo formal. A semiótica não queria se
confundir com questões da ontologia, sociologia ou psicologia.
Diante dessa incógnita (incorporar ou não a enunciação), a semiótica valeu-se da
seguinte estratégia: considerar a enunciação como uma instância pressuposta ao
enunciado.
A teoria da subjetividade de Benveniste (1976) foi inovadora e desempenhou
importante papel na retomada das questões referentes ao sujeito e à significação, porque
possibilitou um deslocamento de sentido na concepção de linguagem, considerando o
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