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MEMÓRIA DO INSTANTÂNEO

 
 

Prof. Dr. Antonio Celso Ferreira


Nenhum ofício das humanidades passa incólume pela estonteante revolução dos nossos dias, expressa no minimalismo chip. Não poderia ser diferente com a história, uma das mais ancestrais atividades do espírito, cujo processo de modernização e profissionalização ao mesmo tempo resiste e se adapta ao dinamismo avassalador dos sujeitos tecnológicos.

O historiador e seu tempo: tratar dessa relação é ir ao cerne de toda problemática histórica, em qualquer época e circunstância, quanto mais da atual. Ao examinar a dimensão temporal dos eventos, o historiador se depara também com os espaços físicos e culturais, materiais e imaginários que compõem seu espectro de reflexão. Em cada página da historiografia - remota ou recente -, em cada fonte - manuscrita ou virtual -, em cada técnica narrativa - à luz de vela ou de tela -, em cada hora do seu labor - ociosa ou disciplinada -, haverá sempre um tempo a sombrear e iluminar sua liberdade de criação. Pode-se perscrutá-lo nas artes dos historiadores clássicos, eruditos, acadêmicos ou militantes que aguardam a miniaturização digital. Será ainda, entretanto, passível de apreensão nos milhões de arquivos mutantes, eletronicamente produzidos pelos historiadores-operadores do século XXI? Ou melhor: que modalidade de tempo é este, que espécie de condicionamento ou de liberdade de criação ele nos reserva na era da reprodutibilidade/destrutibilidade técnica/térmica?

 


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