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Uma das
características mais marcantes do Historiador é a necessidade
desse tipo de profissional de estar profundamente sintonizado
com seu próprio tempo. São justamente as angústias e as
preocupaões colocadas pelo seu presente que definirão seus temas
de pesquisa e seu olha para o passado, procurando entender as
rupturas, as mudanças, enfim, as inflexões e as continuidades
que marcam o movimento de uma sociedade numa perspectiva
estrutual.
Essa sintonia com o presente é frequentemente percebida na
organização de um Congresso Científico, bem como na definição de
seu temário central, divulgando muitas vezes através das
significações metafóricas de um cartaz símbolo.
O VI Encontro Regional da
ANPUH, realizado na campus da Unesp de Assis, no ano de
1982, estampou, emblemáticamente, em seu cartaz-símbolo a imagem
de um trabalhador. Quais eram as preocupações aí contidas?
Parecia muito claro que os intelectuais que se reuniram naquele
Congresso entendiam que, após anos de silêncio e obscurantismo,
o trabalhador emergia na cena social brasileira de forma, ao
mesmo tempo, ruidosa e instigante.
Desde os anos setenta, a sociedade brasileira vivia a emergência
dos movimentos sociais ressurgidos dos escombros da ditadura
militar. Quando vieram à tona, apresentaram-se com
características novas, a ponto de escapar inteiramente aos
padrões de inteligibilidade teórica então vigentes. A partir de
que parâmetros seria possível entender aquelas novas
significações, os novos tipos de motivações, os novos valores,
as novas formas de luta dos movimentos populares daqueles anos?
Era esse o grande desafio de intelectuais como Marilena Chauí,
Kenneth Maxwell, Fernando Novais e tantos outros que se fizeram
presentes naquele momento.
A realização do Congresso em Assis comportou uma significação
complementar também exarada no cartaz. Esta micro-região
agrícola fora palco, desde os anos cinquenta, da modernização da
agricultura paulista, que substitui as chamadas culturas
tradicionais aqui existentes pela produção mecanizada,
provocando uma concentração da propriedade fundiária jamais
vista, expulsando o homem pobre do campo para a periferia dos
centros urbanos, gerando o chamado trabalhador bóia-fria. O
trabalhador retratado no cartaz símbolo do Congresso é
justamente um trabalhador bóia-fria, resultado perverso da
modernização agrária da região.
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