anpuh

 


O CARTAZ DO ENCONTRO
LEMBRANÇA E ESQUECIMENTO: FRAGMENTOS DE SI
Prof. Dr. José Carlos Barreiro

 

 
 


Uma das características mais marcantes do Historiador é a necessidade desse tipo de profissional de estar profundamente sintonizado com seu próprio tempo. São justamente as angústias e as preocupaões colocadas pelo seu presente que definirão seus temas de pesquisa e seu olha para o passado, procurando entender as rupturas, as mudanças, enfim, as inflexões e as continuidades que marcam o movimento de uma sociedade numa perspectiva estrutual.

Essa sintonia com o presente é frequentemente percebida na organização de um Congresso Científico, bem como na definição de seu temário central, divulgando muitas vezes através das significações metafóricas de um cartaz símbolo.

O VI Encontro Regional da ANPUH, realizado na campus da Unesp de Assis, no ano de 1982, estampou, emblemáticamente, em seu cartaz-símbolo a imagem de um trabalhador. Quais eram as preocupações aí contidas? Parecia muito claro que os intelectuais que se reuniram naquele Congresso entendiam que, após anos de silêncio e obscurantismo, o trabalhador emergia na cena social brasileira de forma, ao mesmo tempo, ruidosa e instigante.

Desde os anos setenta, a sociedade brasileira vivia a emergência dos movimentos sociais ressurgidos dos escombros da ditadura militar. Quando vieram à tona, apresentaram-se com características novas, a ponto de escapar inteiramente aos padrões de inteligibilidade teórica então vigentes. A partir de que parâmetros seria possível entender aquelas novas significações, os novos tipos de motivações, os novos valores, as novas formas de luta dos movimentos populares daqueles anos? Era esse o grande desafio de intelectuais como Marilena Chauí, Kenneth Maxwell, Fernando Novais e tantos outros que se fizeram presentes naquele momento.

A realização do Congresso em Assis comportou uma significação complementar também exarada no cartaz. Esta micro-região agrícola fora palco, desde os anos cinquenta, da modernização da agricultura paulista, que substitui as chamadas culturas tradicionais aqui existentes pela produção mecanizada, provocando uma concentração da propriedade fundiária jamais vista, expulsando o homem pobre do campo para a periferia dos centros urbanos, gerando o chamado trabalhador bóia-fria. O trabalhador retratado no cartaz símbolo do Congresso é justamente um trabalhador bóia-fria, resultado perverso da modernização agrária da região.

 

 


01  >  02  > 03  >  04  >  05  >  06  >  07  >  08  >  09  >  10  >  11
12  >  13  >  14  >  15  >  16  >  17  >  18  >  19  >  20  > 21
22  >  23  >  24  >  25  >  26  > 27  >  28
<<VOLTAR>>