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É interessante pensarmos que nos discursos sobre o pioneirismo em Londrina
e há com muita frequência referências sobre a bravura e a coragem desses
desbravadores, que com muito empreendedorismo conseguiram construir uma grande
cidade a partir de uma clareira na mata. Desse modo, é preciso dizer que o discurso
sobre o pioneiro em Londrina é marcadamente masculino, pois, de acordo com o
pensamento normativo, são os homens os portadores da bravura e da coragem
necessárias para que tal empreendimento acontecesse com êxito. É a força do
homem que destrói a mata e ergue arranha-céus. À mulher, o dito sexo frágil e meigo,
competia o lar, a criação dos filhos, a segurança, o mínimo do conforto. Dessa forma
elas foram tradicionalmente preteridas nos discursos sobre o pioneirismo, pois por
pioneiro entendia-se aquele homem que construíra e que colaborara para o progresso
da cidade.
Nesta sociedade construída por homens – “pioneiros” – a aventura, a
coragem, o espírito bandeirante, identificados aos “gestos audaciosos
de comprar terras, de derrubar florestas, e de plantar extensas
lavouras”, nortearão a produção da memória e foram imprescindíveis
para a construção dos discursos sobre o “progresso” (CASTRO,
1994. p. 17-18).
Podemos perceber essas relações de gênero em alguns túmulos do cemitério
mas, principalmente, em um túmulo no qual está sepultado um casal. Abaixo de suas
fotos há uma placa para cada um: na dele, além de seus dados pessoais, tem a frase
“pioneiro de Londrina”; na dela também constam suas datas de nascimento e morte,
mas há a seguinte frase “saudade de seus familiares”, como podemos perceber pela
imagem 11. Ou seja, pela leitura que se faz do que está dito na lápide, conclui-se que
apenas ele é pioneiro, ela não,
Imagem12
- Túmulo com inscrição de pioneiro
Fonte:
Acervo fotográfico do autor.