o que resulta num trabalho com “uma população de acontecimentos dispersos”
(Foucault, 2008, p. 24). Inicialmente, em sua arqueologia, Foucault, destitui as noções
“tradicionalmente” aceitas como formadoras de unidades dos discursos: trata-se de
agrupamentos, sínteses acabadas, laços que diversificam o tema da continuidade,
permanência, originalidade e grandes individualidades históricas; são noções pelas quais
se costuma interligar os discursos dos homens. São princípios de classificação da
unidade discursiva e de organização do saber. Essas noções são: tradição, influência,
desenvolvimento e evolução, mentalidade e espírito de uma época, livro, obra, autor,
temas da origem e do já-dito. Ao contrário do que propõe essas noções de agrupamentos
e recortes é necessário considerar a dispersão dos acontecimentos discursivos. Cabe,
então, ao analista restituir-lhes a unidade evidenciando regularidades entre os mesmos.
A noção de História geral, caracterizada pelas descontinuidades, assinala os
acontecimentos discursivos numa dispersão. Posto isso, para se constituir
corpus
de
análise, tais acontecimentos discursivos precisam ser captados em série, série temática,
por exemplo. A partir de uma série de enunciados é necessário observar as regularidades
discursivas por meio do que Foucault chama de regras de formação, as quais constituem
a identidade da formação discursiva. Essas regras é o que permite vislumbrar num
conjunto de enunciados certa regularidade.
A formação discursiva seria, pois, a regularidade que pode ser descrita no caso
em que, entre a série de enunciados, se vislumbre o funcionamento de um sistema de
dispersão, sistema esse com lacunas, falhas, desordens, superposições,
incompatibilidades, trocas e substituições. Para determinar as regras específicas em que
são formados “os objetos, os tipos de enunciação, os conceitos, e as opções teóricas” é
preciso traçar a relação específica entre os (sub)níveis que organizam cada uma dessas
formações. Desses sub(níveis), destacam-se as constituintes do sujeito, entendido como
modalidade enunciativa, que são, o
status,
a
instituição
e a
posição,
as quais podem
variar segundo a construção do
corpus
(FOUCAULT, 2008, p. 80).
Corrobora, nesse sentido, destacar o termo “formação” em “formação
discursiva”, cujo caráter dinâmico e ativo se opõe ao caráter estático e pronto, uma vez
que as regras de formação não preexistem à análise. Em vez de considerar o termo
formação “em uma perspectiva puramente estática como referindo-se a uma entidade já
existente, o analista, em função de sua pesquisa,
dá forma
a uma configuração original”