Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 569

Vê-se, com isso, a importância para o escritor modernista das crônicas
publicadas no periódico
Diário Nacional
. Devido à relevância desta produção, Telê
Porto Ancona Lopez reuniu a série “A arte em São Paulo”, de 1927, “Táxi”, de 1929-
1930, crônicas várias, de 1931-1932, a série “Folclore da Constituição”, de 1932, e as
publicou em livro, intitulando-o
Táxi e crônicas no Diário Nacional
. Para ela (2005),
As crônicas de Mário de Andrade no
Diário Nacional
constituem um importante
veículo de suas idéias, além de mostrarem no despoliciamento do trabalho jornalístico a
humanidade do escritor. [...] A escolha do título
Táxi e crônicas no Diário Nacional
decorre da valorização do melhor momento na produção do período e do
aproveitamento de um cabeçalho, que, como vimos, é bastante significativo. (p. 15)
Caracterizadas, em princípio, por serem escritas “ao correr da pena”, as crônicas
mariodeandradeanas publicadas sob o título de
Táxi e crônicas no Diário Nacional
revelam, graças a uma análise mais atenta, a presença de várias vozes que nelas se
manifestam. Apresentam, ainda, uma relação estrita com o contexto em que foram
produzidas, mesmo que não se restrinjam a ele, pois como ensina Pierre Brunel (1989,
p. 45): "Chacun des éléments est lourd de la signification du contexte dont il est
arraché.”
Pode-se inferir, dessa maneira, que as crônicas estabelecem um diálogo com
outros textos e com o contexto histórico em que está inserido. Para o crítico Mikhail
Bakhtin, todo ato de linguagem é uma ação, pois constitui o homem e é constituído por
ele e todo discurso é uma reação, pois retoma os textos anteriores e os possíveis
posteriores:
A orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo o discurso. Trata-se
da orientação natural de qualquer discurso vivo. Em todos os seus caminhos até o
objeto, em todas as direções, o discurso se encontra com o discurso de outrem e não
pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa. Apenas o Adão mítico
que chegou com a primeira palavra num mundo virgem, ainda não desacreditado,
somente este Adão podia realmente evitar por completo esta mútua orientação dialógica
do discurso alheio para o objeto. Para o discurso humano, concreto e histórico, isso não
é possível: só em certa medida e convencionalmente é que pode dela se afastar.
(BAKHTIN, 1990, p. 88)
Importante ressaltar que este diálogo só se forma efetivamente se o leitor tiver
repertório, ou seja, se ele não possuir conhecimentos sobre o texto dialogado, não
perceberá a relação estabelecida entre as obras.
1...,559,560,561,562,563,564,565,566,567,568 570,571,572,573,574,575,576,577,578,579,...1290
Powered by FlippingBook