Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 570

Várias são as manifestações dialógicas presentes nas crônicas do escritor de
Macunaíma
: marcas que mostram um diálogo com alguém, como em “O burguês e a
ópera”, vozes sociais que às vezes se digladiam de forma dialógica, mostrando situações
de embate que ocorrem entre o eu e o outro, como em “O castigo de ser – II”, narrativas
orais colhidas por Mário em suas viagens, em um outro espaço-tempo, como em
“Romances de aventura”, e referências a outros textos e autores, como em “Bustamante
y Ballivian”, “Auxiliando a verdade”, “Mesquinhez”. Esta última nos interessa mais de
perto, pela relação dialógica estabelecida com a obra
La trahison des clercs
, do escritor
francês Julien Benda.
“Mesquinhez” foi publicada no jornal paulista
Diário Nacional
, na coluna do
escritor intitulada “Táxi”, no dia 1° de novembro de 1929. Esse ano é caracterizado pela
crise da “política do café com leite” e por fortes mudanças econômicas no país, devido à
“Queda da Bolsa de Nova York”.
Os efeitos sociais da crise atingiram quase todos os países, exceto a Rússia. No
Brasil, a exportação de gêneros primários, como o café, diminuiu drasticamente e a
importação de produtos manufatureiros foi afetada, ocorrendo a falta desses produtos e
elevação nos preços. Além disso, os Estados Unidos eram o maior credor dos países
latinos e, por isso, começaram a cobrar os pagamentos. Por outro lado, a crise acelerou
o processo de industrialização no Brasil.
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Neste texto, Mário de Andrade faz uma crítica aos intelectuais – literatos,
pintores, músicos, arquitetos, fisiólogos, tisiólogos e teólogos – que se colocam à
margem dos problemas sociais do país. Critica, também, a atitude dos literatos e
pintores que cedem às necessidades do mercado e não produzem o que realmente
gostariam.
Para Mário, a arte deve ser “interessada”, ou seja, o artista (escritor, músico,
escultor) deve ser “responsável” perante o público e a sociedade:
A arte tem de servir. Venho dizendo isso há muitos anos. É certo que tenho cometido
muitos erros na minha vida. Mas com a minha “arte interessada” eu sei que não errei.
Sempre considerei o problema máximo dos intelectuais brasileiros a procura de um
instrumento de trabalho que os aproximasse do povo. (ANDRADE, 1983, p. 105)
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As informações históricas foram retiradas de: Allan Nevins; COMMAGER e Henry Steele.
Breve
História dos Estados Unidos
. São Paulo: Alfa-Ômega, 1986.
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