Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 560

seguida, comenta a opinião de Lula de que as imagens “não falam por si”, coadunado-a
com as palavras de Millôr. Sua conclusão é que isso pode realmente acontecer, mas “as
falas que as acompanham só faltam gritar”. Percebemos, portanto, que apesar do
cronista usar o provérbio, seu sentido corre em direção divergente com a conclusão do
texto. O cronista concorda que a imagem do governador recebendo dinheiro poderia ter
diversas interpretações por parte do público, mas são suas falas que o comprometem.
II. Provérbios cuja forma foi parcialmente mantida
1.
Mais vale um pássaro na gaiola do que dois voando
(13/07/08 – Eliane Catanhêde –
“Dois homens, uma sentença”) - A crônica da qual o provérbio faz parte refere-se ao
habeas
corpus
dado pelo ministro Gilmar Mendes ao banqueiro Daniel Dantas. Ela
relembra que o mesmo já havia ocorrido com o banqueiro Salvatore Cacciola, que fugiu
para a Itália e expõe sua preocupação sobre poder acontecer a mesma coisa com Daniel
Dantas. Assim é que o sentido do provérbio sofre uma captação, de acordo com
Maingueneau (2005). A alteração sofrida pelo provérbio,
mão / gaiola
, está diretamente
relacionada a uma inferência que o leitor deve fazer, considerando seus conhecimentos
prévios: gaiola / prisão.
2.
O fim justifica o meio?
(29/9/09 – Carlos Heitor Cony – “A embaixada e a calçada”) -
O presente provérbio finaliza o primeiro parágrafo da crônica. O texto refere-se à
intromissão do Brasil no golpe de Estado em Honduras, dando asilo político ao
presidente deposto. Este provérbio entre nesta subdivisão porque traz dois tipos de
alteração em sua materialidade: a primeira, a ausência da marca do plural e, a segunda,
o ponto de interrogação. Apesar desses fatos, não se pode dizer que há uma subversão
em seu sentido original A ausência da marca linguística pluralizante dialoga com o
conteúdo textual, pois o “fim” preconizado refere-se à democracia hondurenha
pretendida pelo Brasil, ou seja, há somente um objetivo / fim. O diálogo também se faz
perceber no uso do sinal interrogativo. O autor utiliza-o com o intuito de trazer o leitor
para o texto, buscando sua adesão. Ele, leitor, deverá responder que “não”,
considerando o percurso argumentativo da crônica. É possível perceber, nesta crônica,
portanto, que o recurso de supressão de uma marca linguística, por um lado, e a inclusão
de outra são recursos orientadores de sentido.
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