Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 394

acontecimentos teóricos da lingüística (como a revolução epistemológica do
saussurianismo) induzem a uma configuração de forças filosóficas simultâneas
(em presença). Essas posições filosóficas têm fortes ressonâncias concretas nos
trabalhos lingüísticos de diversas correntes para alertar politicamente àqueles que
desejam diretamente “aplicar a lingüística” ao materialismo histórico a fim de
estudar as ideologias e os discursos políticos: uma mudança de terreno se impõe,
se quiser-se evitar que o universitário não se sobreponha (domine) ao político.
Michel Pêcheux defende que o pensamento foucaultiano da
A arquelogia do
saber
se enquadra na tendência historicista, ou no
reformismo crítico
, pois Michel
Foucault em sua metodologia arqueológica “
subordina a divisão à unidade, e pensa a
contradição como resultado do encontro de contrários preexistentes, separando, assim, a
existência das classes e a luta das classes”.
Nesse sentido, aceitando as proposições de
Michel Pêcheux parece-nos problemática a aproximação que é feita entre as reflexões
pecheutianas e foucaultianas sobre discurso e formação discursiva.
Conclusões preliminares...
Neste breve artigo, tentamos defender a idéia de que aproximar Pêcheux e
Foucault no tocante as noção de formação discursiva e de discurso é muito
problemático, sobretudo do ponto de vista teórico, visto que as bases epistemológicas
que sustentam os seus trabalhos são bastante distintas. Enquanto o primeiro tem em suas
bases epistemológicas o
marxismo-leninnismo
, que não separa a luta de classes das
classes, o segundo se inscreve numa tendência historicista, que defende uma separação
entre classes e lutas de classes.
É preciso, todavia, considerar que a hipótese de leitura por nós levantada carece
ainda de uma melhor fundamentação, uma vez que não confrontamos as arquiteturas
dos dois pensamentos na sua totalidade. Confrontamos basicamente o Foucault da
A
Arqueologia do saber
com o Pêcheux da primeira e segunda épocas. Outro ponto a ser
considerado é fato de que a luta de classes tal qual pensada por Pêcheux à luz do
althusserianismo-marxista até que ponto daria conta de explicar os conflitos existentes
atualmente na nossa sociedade, sobretudo por se tratar de uma sociedade marcada pelo
unidentitarismo. O confronto dessas duas arquiteturas e a discussão sobre a pertinência
da luta de classes fica para um trabalho futuro.
Como dissemos no início deste texto, nosso objetivo não é construir uma
alfândega epistemológica entre os pensamentos de Pêcheux e Foucault, mas contribuir
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