Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 388

posição dada na conjuntura social” (Pêcheux, 1975, p.188). É possível interpretar esse
conceito, por meio dos exemplos dos gêneros textuais entre parênteses, a partir de uma
dupla leitura: em termos de gênero ou em termos de posição. Parece-me que Pêcheux ao
sublinhar
aquilo que pode e deve ser dito
e se situar no espaço da luta de classes,
trazendo como exemplos de gêneros os que privilegiam uma luta ideológica explícita,
opta pela segunda interpretação. A questão dos gêneros mesmo indicada, não é
discutida.
Embora fundamental para fugir de uma interpelação ideológica homogênea do
sujeito e, também de uma
gramaticalização
do discurso, nos termos de Courtine (1999),
essa articulação entre posição de um lado e gênero de outro não é feita nem por
Foucault e nem por Pêcheux. Enquanto este último exemplifica essa noção a partir de
discursos ideologicamente marcados, privilegiando notadamente a luta política,
Foucault a exemplifica com discursos da história das ciências, verificando as condições
que possibilitam a irrupção e a legitimação de determinados discursos no verdadeiro de
uma época.
Discurso
A noção de discurso é empregada por Michel Foucault na
A arqueologia do
saber
com a seguinte acepção: “Um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre
determinadas no tempo e no espaço, que definiram em uma dada época, e para uma área
social, econômica, geográfica ou linguistica dada, as condições de exercício da função
enunciativa” (FOUCAULT, 1986, p. 43). Assim, Foucault (1986, p.43) compreende “o
discurso como um conjunto de enunciados na medida em que eles provêm da mesma
formação discursiva”.
Tomar o discurso como objeto significa em última instância para Foucault da
A
arqueologia do saber
, realizar não apenas uma análise linguística desse objeto,
descrevendo e/ou explicando seus níveis linguísticos, mas, principalmente produzir uma
interrogação sobre as condições de emergência desse objeto, isto é, quais são os
dispositivos discursivos que possibilitaram a irrupção de determinada prática discursiva
e não outra em um determinado momento histórico. Nesse sentido, segundo Revel
(2005, p. 38):
Foucault substitui o par saussuriano língua/fala por duas oposições que ele faz
funcionar alternativamente: o par discurso/linguagem, no qual o discurso é
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