Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 283

história, a memória, o interdiscurso, o pré-construído e as condições de produção. Dizer
que a linguagem não é transparente significa dizer que a ideologia está encravada na
língua, sem que os sujeitos percebam ou tenham controle sobre isso, como é explicado
pela
noção de esquecimento
. Distinguidos entre
enunciativo
e
ideológico
, a
noção de
esquecimento
é numerada por Pêcheux (1997) como 2 e 1, respectivamente. O
esquecimento número 2 (ordem enunciativa) refere-se à ilusão de que se domina o dizer
e o esquecimento número 1 (ordem ideológica) relaciona-se com a ilusão de o sujeito
ser a fonte do que diz, a fonte do sentido. Esses esquecimentos não são um defeito, pelo
contrário, são necessários, pois é partir deles que a língua funciona.
Parece redundante dizer que o objeto de estudo da Análise do Discurso é o
discurso, mas é isso mesmo. Porém, para a AD, o discurso não é entendido como
mensagem ou troca de informação. Pêcheux (1997) afirma que o discurso é entendido
como o “efeito de sentidos existentes entre interlocutores”, pois entram em jogo
representações (imaginárias), relações históricas e ideológicas e características das
condições em que o discurso é produzido, que contribuem, de forma decisiva, para a
construção dos efeitos de sentidos. Sob essa perspectiva, a língua não pode ser
concebida como um sistema fechado de comunicação, em que emissor e receptor não
interagem; ela é forma de persuasão e materializa nos enunciados valores, crenças,
posições e ideologias. O discurso é uma teia, repleta de fios ideológicos, os quais
comportam uma pluralidade de vozes que coexistem, dado o caráter dialógico do
discurso.
A noção de sujeito é relevante para a AD. Os indivíduos são nomeados como
sujeitos e compreendidos como o resultado da interpelação do indivíduo pela ideologia.
Entretanto, a ênfase do estudo não está no sujeito, na relação de interação criada entre o
eu
e o
tu
, mas está voltada para o “espaço discursivo criado por ambos”, pois “numa
relação dinâmica entre identidade e alteridade, o sujeito é ele mais a complementação
do outro” (Brandão, 2004, p. 55). Cabe ao analista, portanto, estudar como se dão as
relações existentes na sociedade, que constituem o sujeito assujeitado ideologicamente e
afetado pelo inconsciente.
Além de entender o sujeito como assujeitado e dotado de significância, leva-se
em conta também as condições de produção, o ‘lugar’ e o papel social que os sujeitos
ocupam na sociedade. As condições de produção determinam o discurso e revelam
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