Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1006

existencial, que é o de circulação. Sobre isso, afirmou: “póde-se dizer que o normal da
vida é uma operação que tem duas fazes: juntar dinheiro –primeiro tempo- para gasta-
lo- segundo tempo” (ALBUQUERQUE, 1916, p.177-178). Para ele, o dinheiro é um
mal social necessário, afinal de contas, o Brasil é um país capitalista e, como tal, precisa
dele. De fato, “o ideial não está em restrinjir as necessidades: está em cada um ampliar o
seu lucro para satisfaze-las” (ALBUQUERQUE, 1916, p.204).
Vale registrar também que um recurso retórico bastante usado não somente
nas conferências, como também no restante da produção de Medeiros e Albuquerque, é
o fato dele negar o valor dos seus feitos literários, subestimando-os de forma a transpor
certo fingimento no discurso. Tal dado é comprovado em muitos momentos de
O
silêncio é de ouro
como, por exemplo, quando o conferencista pede perdão ao público:
“eu vos peço, para merecer um pouco de perdão [...]: não creiais nos vossos ouvidos. Só
assim eu poderei ser desculpado” (ALBUQUERQUE, 1916, p.249).
Consequentemente, apresentando-se com humildade ao público, Medeiros e
Albuquerque, como um bom conferencista que foi, sabia que a intimidade com os
receptores tendia a ser muito mais fácil de ser alcançada, além é claro, do fato de se
desculpar, mesmo de forma implícita, de possíveis deslizes que naturalmente mesmo
um experiente conferencista podia provocar em textos orais. De fato, conferência é um
gênero de obra altamente eloqüente e, como tal, está mais próximo da oralidade, que é
utilizada pelos falantes sempre com bastante naturalidade.
Em outro momento, de forma irônica, Medeiros novamente revelou fingido
desapreço por seu texto, ao afirmar: “Não ha mal que sempre dure. E’ o caso desta
conferéncia” (ALBUQUERQUE, 1916, p.345). Em seguida, ainda continuou da
seguinte forma: “mesmo, porém, tratando-se dela, os que a ela assistiram acharão com
certeza que o que ela teve de melhor foi isto: foi acabar” (ALBUQUERQUE, 1916,
p.345).
Evidentemente, trata-se claramente de um recurso retórico para proporcionar
maior intimidade com o público ouvinte, pois se Medeiros achasse que suas
conferências não fossem boas, ele, sem dúvida, procuraria alterá-las, visto que sempre
foi um escritor bastante cauteloso e exigente. No entanto, achava importante usufruir
desse recurso na oralidade, sendo que até mesmo confessou que seus discursos nem
sequer mereciam títulos, por serem bastante efêmeros. Sobre isso, disse: “si fosse
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