GRANDE GEDEÃO: DA INTERPRETAÇÃO ERRADA AO FINAL FELIZ
Maryllu de Oliveira CAIXETA
RESUMO: Trataremos do conto “Grande Gedeão” inserido na obra
Tutaméia
de João
Guimarães Rosa. O protagonista Gedeão interpreta equivocadamente fragmentos do sermão
de um seminarista itinerante e se convence a parar de trabalhar para ser como os
passarinhos. A pregação do seminarista alude ao “Sermão da Montanha”. Nos interessa
observar como a apropriação fragmentária e equivocada do discurso mítico fundamenta a
prosperidade do herói.
PALAVRAS-CHAVE: Guimarães Rosa,
Tutaméia
, discurso mítico.
A última obra editada por Guimarães Rosa em vida apresenta diversos desafios à
interpretação com dificuldades sinalizadas pelo autor que as selecionou e que servem como
pontos principais na discussão do projeto de sua obra. Enunciados e enredos elaborados a
partir de paradoxos são duas das diversas estratégias que tornam a interpretação
necessariamente equívoca. Tomaremos como exemplo o conto “Grande Gedeão” no qual
uma anedota paradoxal é encenada: o rude Gedeão abandona o trabalho braçal com o qual
sustentava a família convencido de decisões tomadas a partir do que compreendeu de
trechos do “Sermão da montanha” pregado por um seminarista que passava por lá. O texto
bíblico que persuadiu Gedeão em meio a um cochilo é aludido pelo conto na fala do
missionário que provoca a assistência colocando em questão a valentia como pré-requisito
da obediência ao evangelho. Temos um texto sagrado, um ouvinte desatento e “incogitante”
(ROSA 1979, p.77). O paradoxo se completa no desfecho do conto quando o protagonista
termina como homem próspero, tendo encontrado resistências a princípio apenas por parte
da própria mulher. O humor incluído na anedota paradoxal, parar de trabalhar e prosperar,
desestabiliza as expectativas do senso comum preparadas por discursos causais de maior
Doutoranda em Estudos Literários pela UNESP – Araraquara (SP), pesquisa “A ironia nas
Terceiras
estórias – tutaméia”
(FAPESP),