Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 356

Ao falarmos de discurso político não podemos nos esquecer que o objeto de
pesquisa da Análise do Discurso é o próprio discurso e que esta disciplina privilegia os
discursos políticos, pois, com o objetivo de produzir sentidos a respeito das realidades
históricas e políticas, a AD ambicionava, ao mesmo tempo, “[...] compreender a
sociedade e operar suas transformação” (COURTINE, 2006, p. 38). No entanto, a mídia
modificou a quantidade e a qualidade das informações. As imagens, atrelada ao poder
da palavra, se tornaram, com muita rapidez, uma maneira eficaz de persuasão,
modificando o comportamento social e, consequentemente, a política. Segundo
Courtine (2006, p. 50), deve-se levar em consideração “[...] quando a comunicação
política consiste num comício que reúne uma multidão em torno de um orador e quando
essa comunicação toma forma de shows televisivos, aos quais cada um assiste em
domicílio”, ou seja, traduzindo as palavras do referido estudioso, nos dias atuais não é
possível fazer a mesma análise do discurso político que era feita na década de 60 ou 70.
Dessa forma, podemos perceber que houve inúmeras transformações no âmbito
da política. De acordo com um estudioso do ramo, tornou-se corriqueiro utilizar os
termos
luta
,
jogo
e
debate
associados ao discurso político, pois, consoante Miguel
(2000, p. 60), na “[...] luta, o objetivo é a destruição do inimigo; no jogo, a vitória sobre
o adversário, obedecido um conjunto de regras; no debate, o convencimento – e
portanto a adesão – do interlocutor [...] Na política, os três aspectos se justapõem” e são
permeados pelo discurso. Assim, é no e pelo discurso que a política se concretiza, se
desenvolve e se transforma.
Tomado como ato de comunicação, o discurso político concerne mais
diretamente os atores envolvidos na cena da comunicação política, cujo objetivo
consiste em influenciar opiniões com o propósito de obter adesões, rejeições ou
consensos.
Ele resulta de aglomerações que estruturam parcialmente a ação política
(comícios, debates, apresentação de slogans, reuniões, ajuntamentos,
marchas, cerimônias, declarações televisivas) e constroem imaginários de
filiação comunitária, mas dessa vez, mais em nome de um comportamento
comum mais ou menos ritualizado, do que um sistema de pensamento,
mesmo que este perpasse aquele. Aqui, o discurso político dedica-se a
construir imagens de atores e a usar estratégias de persuasão e sedução,
empregando diversos procedimentos retóricos. (CHARAUDEAU, 2008, p.
41)
Segundo Charaudeau (2008), as instâncias envolvidas no ato de linguagem que
compreende o discurso político são: a instância política que compreende a instância de
governança e a instância adversária; a instância cidadã, ou seja, eleitores; e a instância
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