trabalhador, de usuário do sistema público de saúde, de pai de família que sempre
batalhou para dar de comer aos seus, enquanto que um discurso que não constrói esse
ethos
, dificilmente se validará por meio dessas cenografias. Dessa forma, a cenografia
seria o
modo
de legitimar o discurso:
(...) a fala é carregada de certo
ethos
, que, de fato, se valida progressivamente por meio
da própria enunciação. A cenografia é, assim, ao mesmo tempo, aquilo de onde vem o
discurso e aquilo que esse discurso engendra: ela legitima um enunciado que, por sua
vez, deve legitimá-la, deve estabelecer que essa cena da qual vem a palavra é
precisamente a cena requerida para enunciar nessa circunstância (MAINGUENEAU,
2008a, p. 71).
Maingueneau afirma que o
ethos
resulta da interação de diversas instâncias, que
são mais ou menos importantes de acordo com o gênero do discurso:
ethos
pré-
discursivo (imagem criada pelo destinatário antes da enunciação),
ethos
discursivo
(
ethos
mostrado), e
ethos
dito (o enunciador evoca sua própria enunciação: “eu sou um
homem do povo”). O autor ressalta que o
ethos
dito e o mostrado inscrevem-se em uma
linha contínua, uma vez que é impossível definir uma fronteira nítida entre o dito
“sugerido” e o “mostrado”. Dessa forma, o
ethos
efetivo, que é o que o destinatário
constrói
efetivamente
, provem da interação entre essas instâncias. Maingueneau constrói
um quadro elucidativo que nos pareceu interessante reproduzir:
Portanto, é no e pelo discurso que é constituído o
ethos
, e este tem um caráter e
uma corporalidade que vão levar à incorporação do co-enunciador a esse discurso ou,
em outras palavras, à adesão a um “mundo ético” determinado. Assim, na construção do
ethos
no discurso político, vemos que corporalidade e caráter levarão a construção de
imagens dos candidatos que farão com que os eleitores adiram a uma representação