Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 983

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Outras marcas dessa nova modalidade narrativa histórica seriam a distorção
consciente da história mediante anacronismos, omissões ou exageros, associada à
utilização da metaficção, comentários do narrador ao processo de criação, fantasiar e
criar textos ou personagens apócrifos. Parece que é o caso em questão, pois, com
certeza nunca existiu um escritor chamado Ángel Juncal Laprida. Trata-se de uma
composição paródica do autor, Miguel Real, misturando uma série de elementos
portenhos que desembocam em Jorge Luís Borges : Ángel, “anjo” em português, é um
nome muito comum em espanhol; “Laprida” é o sobrenome de um dos fundadores da
Argentina _ Francisco Narciso de Laprida (1786-1829), formado em Direito, deputado,
fez parte da primeira formação política do Congresso/Legislativo argentino, feito
presidente do Congresso de Tucumán em 1816, declarou a independência das
Províncias Unidas do Rio da Prata, sendo precursor da emancipação argentina _. O avô
materno de J. L.Borges, Isidoro Acevedo Laprida, era descendente de Francisco
Laprida.
Segundo um estudo de Antonio Andrade, J. L. Borges tem ascendência portuguesa: o
bisavô de Borges, Francisco, teria nascido em Portugal em 1770 e vivido na localidade
de Torre de Moncorvo, situada no Norte de Portugal, antes de emigrar para a Argentina,
onde teria casado com Cármen Lafinur. Mas parece que a família não seguiu existindo,
pois tudo o que há no país refere-se somente a ele. “Juncal” é o nome de uma rua do
centro de Buenos Aires, tomado de uma batalha em que os argentinos venceram os
brasileiros em fevereiro de 1827, pela disputa do rio Uruguai. O nome da batalha vem
do nome de uma ilha do rio Uruguai, onde ocorreu a batalha, provavelmente associado
aos “juncos” aí existentes. “Juncal” em espanhol é o mesmo que em português. A filha
de Juncal Laprida não teria o sobrenome de Laprida, mas apenas Juncal e "Durañona"
parece uma mistura de “Doña”, com “Dura”. Portanto, percebe-se o tom, beirando à
paródia, no tocante ao “lado argentino/ latino/hispano-americano aliado a uma
aproximação com Portugal, relativa ao avô materno de Borges.
A essa altura, o leitor, iniciado em Eça de Queirós/Geração de 70 portuguesa,
tem direito a perguntar-se _ “Qual a relação de Eça de Queirós com a literatura e
escritores argentinos?” Recorremos ao extra-texto para iluminar nosso texto ficcional _
em uma entrevista dada a Adelino Gomes, experiente jornalista e conceituado repórter
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