Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 982

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verdadeiros. “Da esquerda para a direita, Eça, Oliveira Martins, Antero, Ramalho e
Guerra Junqueiro, fotografados em 1884, na Casa União, à Praça de Sta. Teresa, no
Porto, pelo fotógrafo Sáàvedra, retrato de grupo que, mais tarde, em 20 setembro de
1885, será publicado na revista
Ilustração.”
No terceiro parágrafo da legenda, há um outro procedimento metaficcional, que
pode confundir o leitor que não conhece bem a produção literária de Eça: “
Se
observarmos com cuidado o seu olhar como que alucinado, não nos espantaremos que dias
depois Eça de Queirós esteja sofrendo dos sonhos fantásticos e visionários que deram origem à
1ª versão de A VISÃO DE TÚNDALO.”
O narrador faz uma relação da foto com a situação pessoal de Eça ao justificar
sua expressão estampada na foto _ “olhar alucinado”, “dias depois”, “sofrendo de
sonhos fantásticos e visionários” _ justificativa fictícia, pois nada disso aconteceu a Eça,
embora a expressão “deram origem à 1ª versão de A VISÃO DE TÚNDALO” tenha
algo de verdadeiro, na medida em sabe-se que os textos de Eça de Queirós passaram por
várias versões na ânsia deste chegar ao texto cada vez mais perfeito, haja vista, o texto
do romance
O Crime do Padre Amaro
, que teve três versões publicadas- 1875, 1876,
1880.
O autor contemporâneo, Miguel Real, não se sente obrigado a copiar ou refletir o
mundo externo e, assim cria seu próprio universo sem sujeitar-se nem ao pacto da
veracidade, que impõe o discurso histórico, nem ao pacto da verossimilhança, que
mantinha, de certa forma, o discurso ficcional mais tradicional. A “marca registrada”
(BASTOS, p.87) levanta a questão do repertório de informações do leitor, pois este
deveria reconhecer como histórico o elemento a que já foi apresentado. No entanto, as
“marcas não registrada/não-verídicas” adquirem historicidade “por contaminação”, na
medida em que contracenam com os elementos de real extração histórica.
Por conta dos
dados referentes à foto e parte do texto do capítulo 1 e na quase totalidade do cap. 5, o
leitor, que não conhece algumas personagens argentinas que interagem com a
personagem Eça de Queirós, acredita inteiramente na versão apresentada pelo autor do
livro VTpEQ, Miguel Real. Como sinal dos tempos modernos, logo à primeira dúvida,
vai-se ao Google! E o leitor é surpreendido, pois não há nada referente a Angel Juncal
Laprida.
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