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outros sentidos não são ditos. Não se trata de um calar, mas de um dizer de coisas
específicas, para deixar de dizer outras.
A autora, ao fazer menção sobre a censura, afirma que esta
[...] traduz exatamente esta asfixia: ela é a interdição manifesta da circulação do
sujeito, pela decisão de um poder de palavra fortemente regulado. No
autoritarismo, não há reversibilidade possível no discurso, isto é, o sujeito não pode
ocupar diferentes posições: ele só pode ocupar o ‘lugar’ que lhe é destinado, para
produzir os sentidos que não lhe são proibidos (ORLANDI, 2002, p. 81).
Há um efeito de narcisia, no processo de controle da escrita das
correspondências, que fixa sentido e tenta não permitir o atravessamento de outros
discursos. A censura, ao atingir o sujeito, fixa-lhe uma imagem e o induz a dizer x para
não dizer y, mas esse y significa por outros processos que dão lugar à retórica da
resistência, ou seja, do sintoma de que ali pode haver outro sentido na proibição
(Orlandi, 2002).
O sujeito que escreve sob o crivo da censura está impossibilitado de crítica, de
discordar e de escrever certas palavras. Mas mesmo assim, o sujeito preso, constrói pela
escrita, um espaço intermediário que lhe permite não se deixar falar pela censura e não
dizer só o que não é proibido.
Selecionei um enunciado como exemplo das ideias já elencadas:
estou
precisando de 20 reais para comprar um remédio pra mim. Se puder me arrumar, me
aviza o quanto antes que eu peço pra ir aí: daquele mesmo jeito que a fulana
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te falou
aquele dia.
Se olharmos o enunciado atribuindo-lhe o sentido literal
,
está claro o valor e
a finalidade para o pedido, ou seja, a pessoa pede uma quantia em dinheiro para
comprar um remédio.
No entanto, o sujeito pode estabelecer outros sentidos para esses 20 reais que,
nessa condição pode significar duzentos ou dois mil reais e para o remédio que, na
maioria dos casos é fornecido pela farmácia do presídio, pode significar droga, serra,
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Por princípios éticos e de privacidade, os nomes dos autores serão omitidos.
