Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 485

história da língua, por meio de princípios. O primeiro, princípio de análise, consiste na
contextualização histórico-cultural, sócio-econômica e política da época na qual o
documento foi produzido. O segundo, princípio de imanência, trata do levantamento das
informações onde o texto circulou, da pesquisa sobre os fatores vigentes nos
acontecimentos históricos para poder dar-lhe vida novamente, restaurá-lo do passado
para uma compreensão atual. O terceiro princípio trata-se da restauração teórica, isto é,
reatualizar o documento aproximando-o das teorias e terminologias atuais.
Uma segunda forma de entender os processos históricos, que nos permite
discutir modelos estabelecidos para uma melhor interpretação, é a história segundo as
reflexões de Foucault (2008). Isto é, uma história-problema, que tenta desconstruir o
passado enquanto discurso, questioná-lo. Ao invés de partir da estrutura social como
realidade objetiva, deve-se estudar como foram instituídas culturalmente as referências
paradigmáticas da modernidade em relação ao social, à posição dos sujeitos ao poder e
às formas de produção do conhecimento. Como o autor afirma na introdução da
Arqueologia do saber
,
É preciso pôr em questão, novamente, essas sínteses acabadas, esses
agrupamentos que, na maioria das vezes, são aceitos antes de qualquer
exame, esses laços cuja validade é reconhecida desde o início; é
preciso desalojar essas formas e essas forças obscuras pelas quais se
tem o hábito de interligar os discursos dos homens; é preciso expulsá-
las da sombra onde reinam. E ao invés de deixá-las ter valor
espontaneamente, aceitar tratar apenas, por questão de cuidado com o
método e em primeira instância, de uma população de acontecimentos
dispersos.
É preciso também que nos inquietemos diante de certos recortes ou
agrupamentos que já nos são familiares. (FOUCAULT, 2008, p. 24)
A virada epistemológica proposta por Foucault segundo Margareth Rago em “O
efeito-Foucault na historiografia brasileira” (1995), estabelece que a função do
historiador é a de construir a trama correspondente ao acontecimento partindo do fato de
que não existe um passado organizado, nem objetos de estudo prontos, nem sujeitos
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