Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 197

A questão levantada no plano da enunciação (“E eu tive decepção de logro, por
conta desse sensato silêncio?”) lança ainda mais dúvidas a respeito da relação
focalizada.
Diadorim/Reinaldo
Entendemos que o nome das personagens é elemento significativo em qualquer
obra do gênero literário. Em Guimarães Rosa, já foi inclusive objeto de vários estudos,
dos quais destacamos Albergaria (1977); Garbúglio (1972) e Nunes (1976). Esses
estudos abordam sobretudo a instância mítica e etimológica dos nomes, com especial
destaque para Diadorim. Neste trabalho, focalizaremos apenas a androginia do nome
Diadorim em contraponto ao másculo Reinaldo. De fato, Diadorim, já pela configuração
fônica, remete a inocência, a infantilidade, reforçando esse aspecto pelo diminutivo por
apócope (im), o que confere ao nome grande carga afetiva.
Importa observar que a passagem de Diadorim para Reinaldo ocorre em
momento já distante do início da narrativa, denunciando o recurso discursivo que vimos
apontando: o enunciador busca fixar no coenunciador a imagem de um ser andrógino,
por quem se apaixonara. Ao apresentar Reinaldo, sobrepõe a Diadorim a imagem de
força e valentia que vinha sendo indiciada em alguns momentos. Portanto, no plano
narrativo, Reinaldo é Diadorim. Mas, no plano da enunciação, Diadorim torna-se
também
Reinaldo.
A informação sobre esse outro nome da personagem ocorre já decorrido quase
um quarto da narrativa, quando Riobaldo recupera, em seu narrar “dificultoso”, o
reencontro com o Menino que conhecera na infância, chamado Reinaldo:
Soflagrante, conheci. ... Era o Menino! ... Os olhos verdes, semelhantes grandes, o
lembrável das compridas pestanas, a boca melhor bonita, o nariz fino, afiladinho.
Arvoamento desses, a gente estatela e não entende; que dirá o senhor, eu contando só
assim? Eu queria ir para ele, para abraço, mas minhas coragens não deram. Porque ele
faltou com o passo, num rejeito, de acanhamento. Mas me reconheceu, visual. Os olhos
nossos donos de nós dois. ... E ele como sorriu. Digo ao senhor: até hoje para mim está
sorrindo. Digo.
Ele se chamava o Reinaldo
. (p.108)
O nome de Diadorim, referido desde o início da narrativa, é revelado a Riobaldo
pelo próprio Reinaldo, numa espécie de confidência privilegiada, que sela um
relacionamento diferenciado dentro do grupo:
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