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EVENTOS
I Semana de Letras promove reflexões sobre
o papel da Literatura no processo cultural
Nos dias 06 a 10 de novembro ocorreu
a “I Semana de Letras – As letras no pro-
cesso cultural: ecos da margens”, evento
organizado pelos discentes do curso de
graduação bem como os do programa de
pós-graduação em Letras, da Faculda-
de de Ciência e Letras de Assis/UNESP.
Participaram da coordenação os profes-
sores Carlos Eduardo Mendes de Mora-
es e Lucia Regiane Lopes-Damasio, do
Departamento de Linguística, o profes-
sor Fabiano Rodrigo da Silva Santos, do
Departamento de Literatura, e as alunas
do 4º ano, Camila Natália Pires da Silva e
Larissa Carolina de Andrade.
As alunas Larissa e Camila idealiza-
ram esse evento à semelhança daquele
já tradicional no Instituto de Biociências,
Letras e Ciências Exatas - Ibilce/UNESP,
Unidade que, recentemente, realizou a
sua XXIX Semana de Letras.
A proposta dessa I Semana de Letras
foi facultar atividades que instigassem a
discussão sobre o Curso de Licenciatu-
ra em Letras, com base nas teorias for-
madas fora da academia. Todo o evento
priorizou a construção da prática docen-
te. As palestras e atividades presentes
na programação trouxeram, por exem-
plo, a importância do ensino do texto li-
terário com linguagens tidas à margem,
o que propicia pensar sobre discursos
de gênero, étnicos, culturais e sociais. A
finalidade do evento foi ao encontro do
que afirma Antônio Cândido: “a literatura
é uma ferramenta que humaniza o ho-
mem”.
A programação contemplou várias pa-
lestras. A professora Cleide A. Rapucci
(UNESP/Assis), sob o título “Cinderela
e um Mundo de Mulheres”, abordou as
diferentes versões da história da Cinde-
rela e sua influência sobre a juventude
feminina em certo contexto social. A pro-
fessora Joy N. Afonso (UNESP/Assis) fa-
lou sobre “Escrita feminina no Japão: um
caminho de resistência para alteridade”,
apresentando algumas das escritoras
japonesas e a estética de seus traba-
lhos. Ambas propuseram uma discussão
de gênero, presentes nesses recortes e
que, por muitas vezes, são esquecidas
no ensino do cânone literário. O texto li-
terário também foi tema da exposição da
professora Rosaria de Fátima Boldarine
(UNESP/ Marília), que discorreu sobre “O
curso de Letras e a formação de profes-
sores: desafios para a futura docência”, e
Allan Diego de Souza
do professor Sérgio F. Annibal (UNESP/
Assis), que apresentou “Formação de
professores de literatura e currículo”.
Segundo eles, é por meio do ensino da
literatura que se podem trabalhar os te-
mas marginalizados. Chamaram, ainda,
a atenção dos alunos para a docência,
pois “para ser professor é preciso estu-
dar os conteúdos que compõem o curso;
o futuro professor necessita estar muni-
do de conhecimento para conseguir ser
eficiente em seu exercício, ele precisa ter
compromisso com sua atividade, e a pes-
quisa deve ser uma ação diária. Descon-
siderar isso é inaceitável”.
O professor Gilberto F. Martins (Unesp/
Assis) palestrou sobre “Estudos Literá-
rios: margens e territórios”, concluindo
sua fala com a apresentação de uma en-
trevista, a ele concedida, pelo professor
Antônio Cândido, com comentários so-
bre o ensino atual de Literatura.
Por último, foi realizada a mesa-redonda
com os seguintes debatedores: Prof. Ma-
theus Nogueira Schwartzmann (UNESP/
Assis), que falou sobre “Identidade trans-
gênero namídia: rupturas e continuidades”,
e Prof. Dr. José Luiz Fiorin (USP/SP), que
realizou conferência intitulada “Identida-
de nacional e exclusão racial”. O professor
Mateus discorreu sobre o discurso “trans”
e a inserção dele na sociedade atual, res-
saltando que a UNESP, desde 29 de junho
deste ano, aprovou o uso de nome social
para transgêneros na Instituição. Já, o re-
nomado pesquisador do Discurso e da Lin-
guística no Brasil, professor Fiorin, mostrou
como as pessoas de classe econômica so-
A importância do ensino do texto literário com linguagens tidas à margem esteve em discussão durante o evento
cial mais elevada fazem uso da língua para
excluir e oprimir os demais menos favore-
cidos, lançando, aos alunos pretendentes à
docência, o desafio da tarefa de quebrar es-
ses “muros”. “A Ciência que se constrói so-
brepondo-se à outra, não é ciência. Isso não
é fazer ciência; ela não é uma ferramenta
para separar e diminuir, mas sim conectar e
propagar”, disse ele.
Muitas atividades também foram re-
alizadas durante a I Semana de Letras,
como minicursos que versaram sobre
literaturas africanas, discursos de gêne-
ros, historiografia, sociedade e cotidiano.
Os “entardeceres” culturais promoveram
desde a discussão sobre a arte drag e a
marca cultural da travesti até “Leia Mu-
lheres”, projeto incentivador da leitura de
escritoras que, devido ao patriarcalismo,
não puderam existir por muito tempo na
história.
O legado dessa experiência, segun-
do os organizadores, foi ter alcançado o
objetivo das práticas de discussões mo-
tivadoras. Eles incentivam os discentes
a continuar atuando para que, no próxi-
mo ano, aconteça a segunda edição da
Semana de Letras. Em suas palavras, “é
preciso ocupar nosso espaço no Curso.
Neste período de incertezas, não pode-
mos deixar a prática docente ser ainda
mais diminuída por políticas educacio-
nais. Mais do que nunca, é preciso es-
tar em ação. Exercer a docência não é
apenas ter uma atividade remunerada,
é, sobretudo, ensinar a pensar. É preci-
so refletir sobre as questões atuais e se
manifestar.
Foto: Reprodução
