O QUE PASSA PELA UNESP/ASSIS
IAL
cidade elevada a construir sua identidade
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Nosso Câmpus
junho/2012
sar de formarem uma parcela
significativa dos alunos ma-
triculados na rede municipal
de ensino, cerca de 5% a 6%,
segundoestimativasdacoorde-
nadoraCarinaRondini,muitos
destes “gênios” ainda perma-
necem escondidos, devido à
faltade informaçãoe formação
técnica dos educadores.
De maneira geral, a socie-
dade ainda trata com pouca
relevância os casos de crianças
que manifestam algum tipo
de habilidade acima da média.
Costuma, por outro lado, enfa-
tizar edarmais atençãoàqueles
que enfrentam com maior di-
ficuldade as tarefas exigidas na
escola, valendo-se da premissa
de que o alunoque possui bom
aproveitamento em uma área
pode, perfeitamente, repetir a
dose nas demais, o que não é
verdade, desmente Carina.
“Há aqueles que acreditam
que esse aluno não precisa de
um atendimento educacional
especializado, uma vez que,
já foi “agraciado com algo
a mais”. Esta ideia interfere
e dificulta a implantação de
práticas educacionais que
acolham os anseios e neces-
sidades deste aluno”, acredita.
O assunto é tão mal com-
preendido que até mesmo os
alunosnãose sentemàvontade
com sua condição. De acordo
como relato de umdos volun-
tários do projeto, o aluno de
Psicologia Erike Marques da
Silva, de seis alunos que estão
sobsua supervisão, apenasdois
conseguem perceber que são
“especiais”. “Talvez pela matu-
ridade deles, estes dois sentem
que têm certa facilidade como
domínio de Astronomia. Já os
demais não têm tanta consci-
ênciadasuacapacidade”, avalia.
Para Carina, tudo depende
da maturação do aluno. “Ouvi
o depoimento de uma profes-
sora que disse ter um aluno
que estava tendo problemas na
escola, por conta de outro, da-
quelesbem‘malandrinhos’, que
chamava a atenção da turma,
como uma espécie de líder. E a
professora, consequentemente,
dedicavamaisatençãoàcriança
mais “problemática” da turma.
Oprimeiroaluno, que tinhacapa-
cidade elevada, começouaperce-
ber essa diferença de tratamento,
porém não conseguia perceber
que essa atenção toda se devia ao
seucomportamento inadequado,
e ele procurou a professora, em
desespero, para reclamar daquela
situação, dizendoatéque gostaria
de ser como o seu coleguinha,
pois ele tinha a atenção dela e dos
demais amiguinhos. Esse aluno
tinha cerca de 8 anos e, apesar
de possuir certa maturidade em
comparação aos demais, não
tinha ainda idade suficiente para
entender o que estava acontecen-
do”, exemplificou Carina.
Esse tambémé,deacordocom
a pesquisadora, um problema
típico do despreparo dos educa-
dores para lidar com esse tipo de
situação. “Muitasvezesocompor-
tamento, a postura do professor,
faz comque o aluno especial não
consiga ver sua habilidade de
forma positiva”, constata.
Ehá, ainda, os casos emque os
alunos com capacidade elevada
não são detectados. Nestes, as
consequências podem ser mais
trágicas, revela a coordenadora.
“Um aluno com capacidade ele-
vada pode passar a vida toda sem
nuncadesenvolver seu talento.Há
situações em que a criança, por
causa da sua personalidade, não
manifestasuacapacidadeparanão
ser discriminada; por outro lado,
existemaquelesque ‘embotam’ seu
talento por causa da falta de um
ambiente favorável”, explica.
As dificuldades -
Um dos
principais desafios dos facilita-
dores do projeto neste momento
é com relação à continuidade
do atendimento aos alunos que
deixam a rede municipal para
ingressar ou na rede pública,
ou em escolas privadas. Como
citado anteriormente, embora o
projeto do Cedet tenha sido uma
iniciativa da universidade, com
a adoção do Município e com
custos operacionais sendo pagos
pela Prefeitura, quando chega a
hora em que o aluno é promo-
vido ao ciclo correspondente à
competência estadual, tudo se
torna mais difícil, uma vez que
não há contrapartida do Estado
para manter o atendimento.
“O trabalho efetivo com a
criança começa no 4º ano, sendo
que dali dois anos ela já terá dei-
xado os domínios doMunicípio e
estará sob os cuidados do Estado.
Uma vez que amaioria das nossas
crianças está no Estado, isso gera
umentraveburocrático,poisnãoé
simplesaplicardinheiromunicipal
para atender alunos da rede esta-
dual.Comexceçãodaspessoasque
trabalham com a gente, a maioria
não consegue entender que a pro-
postadoCedetéacompanharcada
aluno especial até que ele saia do
EnsinoMédio”, ressaltouCarina.
“Temos lutado muito para
conseguir manter esse princípio
noCedetdeAssis,noentanto,não
tem sido fácil”, desabafa. “Temos
também as situações em que o
aluno deixa a rede pública e se
matriculaemumaescolaparticu-
lar.Neste caso tambémbuscamos
a continuidade do atendimento
e para isso procuramos a escola,
fechamosparcerias, tudoparanão
perder o aluno”, conta.
Todo esse esforço é compen-
sado, de acordo comos relatos de
quem atua e de quem é assistido
pelo Cedet, quando surgem os
primeiros sinaisde transformação
de vida. “O Cedet é tudo para
mim, antes eu não era nada, não
tinha amigos, não tinha futuro.
Hoje, eu sei que vou ser alguém,
tenho uma perspectiva de vida
futurae já tenhoamigos,mudou
muito, hoje, sou outra pessoa”,
disse um aluno de 12 anos.
As famílias envolvidas tam-
bém assistem a essa transforma-
ção. Isso pode ser comprovado
pelo depoimento damãe de uma
aluna. “Depois que minha filha
entrounoCedet, elamudoumui-
to, pois era muito sem educação
comigo.Vivíamosdiscutindopor
tudo e hoje ela me respeita e não
brigamosmais,semfalarquetudo
queo
Cedet
ofereceaelaeujamais
teria comopagar”, agradece.
Para os alunos envolvidos no
Projeto,háaprendizadoconstan-
te“Oquemaisaprendinotempo
em que estou neste projeto foi
a trabalhar em conjunto, pois
aqui todos são unidos por uma
mesma causa”, citou Ana Luiza
Mendonça, aluna do 1º ano de
Psicologiaefacilitadorado
Cedet
.
Essa união mencionada por
Ana Luiza é também sentida
entreosalunosatendidos:“Ébem
diferentequandoseaplicaateoria
na prática, e é isso que o projeto
promove. Trabalho Futebol com
algumas crianças e, apesar de
elas terem comportamentos e
personalidades diferentes, todas
se unem em torno do compro-
misso que têmcoma tarefa a ser
cumprida. Muitas delas atraves-
sam a cidade para participar das
atividades”, conta Rafaela Robles
Leite, do 3ª ano de Psicologia.
Já para Pâmela Bardella, do
segundoanodePsicologia, oque a
fascinanoprojetoéaoportunidade
que temdeparticiparda formação
de pessoas, que podem, um dia,
ser profissionais de destaque em
suas áreas de domínio. “O que me
motiva é ver o que podemos fazer
pelo futuro”, resume.
Depoisdesses relatos, pudemos
perceberqueépossível “estreitar”a
distânciaentreoque se faz (ospro-
fessorespoucoescrevema respeito
de suas experiências e ações) e o
que se sabe (os acadêmicos pouco
sabem sobre as práticas das quais
escrevem), quandoaUniversidade
seabreàsnecessidadesdacomuni-
dade em que esta inserida.
Dessa maneira o
Cedet
, que
surgiu como um desdobramento
do Projeto de Extensão em Assis,
oportunizou ao nosso município,
além da identificação de crianças
e jovens com talento e dotação,
o oferecimento de ações que vis-
lumbrassem o desenvolvimento
de suas potencialidades. “Temos,
ainda, uma longa caminhada, até
chegarmos a um nível satisfatório
no atendimento educacional espe-
cializadoaosmais capazes, todavia,
estamosconstruindoestahistória:o
primeiropassoestádadoemAssis”,
finaliza Carina Rondini.
Metodologia do Cedet oferece atividades complementares em diversas áreas do conhecimento
Foto: Junior Marino