DA MARGEM AO RIO: UM CAMIN
ESPE
Projeto de Extensão ajuda alunos com cap
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Nosso Câmpus
junho/2012
Mayara Crispim
Nas escolas públicas existem
grupos de alunos especiais que,
comosabemos, precisamdeaten-
dimento especializado. A assis-
tência a estes estudantes diferen-
ciados compõeumadas vertentes
da Educação Especial. Contudo,
muitas vezes, em âmbito escolar,
ignora-seoalunoquepossui uma
capacidade superior aos outros
em alguma área específica – ou
em várias, dependendo do caso.
São alunos com habilidades ele-
vadas, que possuem potencial,
talento e dotação, vulgarmente,
chamadosde“superdotados”pela
sociedade em geral.
Para ajudar a desmistificar os
assuntos relacionadosaesse tema,
há exatamente 20 anos, a profes-
sora Zenita Guenter, idealizou o
Centro para o Desenvolvimento
do Potencial e Talento (Cedet),
utilizando-se de uma metodo-
logia de Educação Especial de
reconhecimento internacional.
Implantado em 1992 na cida-
de de Lavras (MG), o Centro foi
estruturadopara servir comoum
espaço físico e social adequado
à dinamização da metodologia
Cedet
– “Caminhos para Desen-
volver Potencial e Talento”. Seu
objetivo é ofertar um ambiente
de complementação e suplemen-
tação educacional de apoio ao
aluno dotado e talentoso, ma-
triculado em diferentes escolas,
nos diversos sistemas e níveis
de ensino. Nos últimos anos, a
metodologia espalhou-se para
várias cidades do Brasil. Alémde
Lavras, há Centros em Palmas
(TO), Vitória (ES), São José dos
Campos (SP), Sete Lagoas (MG),
Poços de Caldas (MG) e Assis.
Emnossomunicípio, aprofessora
CarinaRondini, doDepartamen-
to de Psicologia Experimental
e do Trabalho da Unesp/Assis,
teve a iniciativa de coordenar
um projeto de Extensão voltado
à assistência de alunos com esse
tipo de necessidade especial.
Segundo Carina, a ideia sur-
giu durante uma viagem a um
congresso de Educação Especial
no ano de 2008, mais especifica-
menteapós assistir àumapalestra
da educadora Soraia N. Freitas,
criadora do PIT (Programa de
Incentivo ao Talento). “Na época
eutinhaacabadodechegaraAssis
e nem trabalhava com Educação
Especial, estava lá para acompa-
nhar um grupo de alunos. Mas,
depois do congresso, enquanto
voltávamosparacasa, duasalunas
me abordaram, sugerindo que
iniciássemos um projeto com
este tema, uma vez que o assunto
ainda não havia sido explorado
na cidade”, relatou a professora,
que ministra aulas de Estatística.
Para ela, o primeiro entrave
estava na metodologia, que pre-
cisava de experimentos práticos.
“Trabalhamos até o final daquele
anopara implantaroprojetoe, em
2009, fomos a campoparabuscar
uma parceria com a Secretaria
Municipal da Educação (SME),
mas este foi negado em um pri-
meiro momento”, relembrou.
Contrariandoentãoumdosprin-
cípios dametodologia, que prega
que a identificação do aluno com
capacidadeelevadadeveocorrera
partir do segundo ano do Ensino
Fundamental, “que é a hora em
que a criança sai daquela etapa
chamada de ‘precoce’ e começa a
se estabilizar”, Carina conta que
o grupo não desistiu e foi buscar
apoio junto à Diretoria Regional
de Ensino (DRE), órgão da Se-
cretaria de Estadoda Educação, e
passou, assim, a cuidar de alunos
com idades mais avançadas.
“Fomos atrás da Diretoria de
Ensino, que abriu para nós as
portas de algumas escolas – as
que queriam ou não – e ini-
ciamos o trabalho com classes
de quinto ano. Isto para nós já
foi uma dificuldade, porque, a
partir do quinto ano, os alunos
já possuem vários professores e
para funcionar de maneira mais
eficaz, ametodologiaqueusamos
preconiza que o professor passe
um tempo razoável como aluno,
oqueéumacaracterísticadepro-
fessorde turmaenãoprofessorde
conteúdo”, confessou.
Ainda em2009, percebendoa
necessidade demaior divulgação
sobre o tema, os membros do
projeto decidiram promover a
“I Jornada de Dotação e Talento
de Assis”, em parceria com o
Departamento de Educação Es-
pecial da SME, aDRE e aUnesp/
Assis. “Essa foi aprimeiravezque
conhecemos a professora Zenita
Gunther que é a mentora dessa
metodologia do Cedet. Estabe-
lecida esta parceria, expusemos a
ela nosso desejo de utilizar o seu
método, revelando que já vínha-
mos seguindo o guia desenvolvi-
do por ela, e a professora, então,
para nossa surpresa, respondeu
que: ‘Uma vez que tivesse sido
identificado um caso assim, se-
ria obrigatório ter que atender’.
Desde então não paramos mais”,
afirmou a coordenadora.
Depois de uma mudança na
Secretaria de Educação de Assis,
os membros conseguiram im-
plantar o programa nas escolas
municipais pormeio de umcon-
vênioque estabelece que aUnesp
seja responsável pela consultoria
técnicaepordisponibilizarestagi-
ários, enquantoqueoCedetpassa
a ser umprojeto da Prefeitura no
que tange à parte física e estrutu-
ral. “Nestemomento, oCedet saiu
dasmãosdaUnesppara ser agora
de responsabilidadedoPoderPú-
blico, e isso tudoé regulamentado
pormeiodeumprojetode lei que
foi aprovado na CâmaraMunici-
pal”, detalhou Carina.
Assim, o projeto de Extensão
continua com essa parte de as-
sessoria técnica feita pelos alunos
voluntários,queministramconte-
údosdosmais variados:Astrono-
mia, Informática, Futebol, Teatro,
Matemática, entre outros.
A identificação -
A identifi-
cação dos alunos com capacidade
elevada(termoque,segundoapro-
fessoraCarina,éomaisapropriado
parasereferiraalunoscomtalentoe
dotação) acontecepormeiodeum
processoque levatrêsanoseenvol-
veaparticipaçãodosprofessoresno
preenchimento de um formulário.
“Existe,nametodologiado
Cedet,
o
que a gente chama de “guia”, que é
umquestionário, um instrumento
de levantamento de dados, com-
posto de 25 itens que devem ser
respondidos pelos professores de
2º, 3º e 4º anos, apontando nomes
de alunos que se destaquem nas
áreas de matemática, português,
ciências, etc. Além disso, também
pedimos os nomes de alunos com
característicasque,muitasvezes,os
professores não admitemque pos-
samser de alunos comcapacidade
elevada, comoporexemplo,omais
‘arteiro’, ‘perspicaz’, ‘curioso’, ‘criativo’,
‘introspectivo’, entre outras”.
Esse mesmo questionário é
aplicadopormaisdois anosdavi-
vência escolar do aluno, para que
haja uma comprovação da capa-
cidade apontada por umoumais
professores. “Um item sozinho
não ‘diz’ nada. Para identificar o
domínio,devehaverumacompo-
sição de itens”, justificou Carina.
A pesquisa é, então, aplicada
semprenofinal de cada ano, uma
vez que se espera que o professor
tenha tidomaior tempodeconvi-
vênciacomaclassee, assim, tenha
condições de apontar nomes de
acordo com o que se pede. “A
criançaque for sinalizadaempelo
menos dois dos três questioná-
rios, nós convidamos para passar
um dia ‘diferente’, ao qual damos
onomede ‘ObservaçãoAssistida’,
dentro do
Cedet
. Lá, montamos
ambientesdiferenciados, cadaum
com uma proposta distinta, para
a criança interagir comcada uma
delas. Estes espaços propõem
atividades em três segmentos:
Fazer,Ocupar eAprender.Coma
supervisãodeumfacilitador, será
confirmada ou não a habilidade
que foi apontada pelo professor
e, somente nos casos em que a
resposta for positiva serão feitas
as inscrições no
Cedet
”, explicou.
Participação da família -
O
contato da família com o
Cedet
só é feito quando já tiver sido
constatada a capacidade elevada
do aluno. Feito isso, os membros
doprojetoreportamàescolaore-
sultadodaavaliaçãoea instituição
aciona a família para que ela dê
prosseguimento ao encaminha-
mento da criança ao Centro. Lá,
além da assistência à criança, há
também suporte à família, por
meio da Aspat (Associação de
Pais eAmigosdeApoioaoTalen-
to). Trata-se de uma organização
que liga o Centro à comunidade,
por meio do apoio de pais, entu-
siastas e voluntários que auxiliam
no processo de enriquecimento
das crianças atendidas.
Arealidadenasescolas
-Ape-
Foto: Arquivo Biotec Jr.
Sede do Cedet na Vila Santa Cecília; neste ano 109 crianças são atendidas
Carina Rondini: o assunto precisa ser mais divulgado nas escolas
Foto: Mayara Crispim
Foto: Junior Marino